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           #SPE-C15 Microcirurgia endodôntica para            #SPE-C16 Microcirurgia endodôntica
           remoção de instrumento fraturado do dente 16       de um primeiro molar superior: A propósito
           – Relato de caso                                   de um caso clínico
           Ana Sofia Oliveira*, Carla Costa, Paulo Miller, Sónia Ferreira,   Nuno Rodrigues dos Santos*, Sofia Moura Furtado,
           António Melo-Ferraz, Valter Fernandes              Jorge N.R. Martins, Isabel Vasconcelos, Mário Rito Pereira,
                                                              António Ginjeira
           Instituto Universitário de Ciências da Saúde – CESPU
                                                              Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa
             Introdução: A fratura de um instrumento no terço apical
           de um dente com periodontite apical pode levar a um prog-  Introdução: Um dos principais objetivos do tratamento
           nóstico endodôntico reservado. Ultrapassar ou remover o   endodôntico é o tratamento e a prevenção da periodontite
           fragmento, assim como a desinfeção do canal dificultada,   apical causada pela presença de infeção no espaço do siste-
           pode comprometer a resolução desta patologia. A lesão pe-  ma canalar. Contudo, a patologia pode persistir após o tra-
           riapical, a anatomia do canal e a localização do fragmento   tamento endodôntico primário e até mesmo após o retrata-
           devem ser considerados na decisão da abordagem clínica.   mento endodôntico, podendo então exigir uma abordagem
           Fatores como a visão direta do instrumento, a presença de   cirúrgica. Descrição do caso clínico: Paciente do sexo mas-
           patologia prévia, o momento da fratura, o tamanho e o tipo   culino, 53 anos, sem antecedentes médicos relevantes, apre-
           de fragmento, e a destruição dentinária do canal também   sentou-se com queixas de dor moderada e espontânea, his-
           são importantes. Descrição do caso clínico: Paciente de 38   tória de edema extra oral e abcesso associado ao dente 16,
           anos, sem patologias significativas, apresentava periodon-  que já havia sido submetido a tratamento endodôntico não
           tite apical sintomática no dente 16, com tratamento previa-  cirúrgico 18 meses antes, com posterior reabilitação indire-
           mente iniciado. Referenciado para consulta de endodontia   ta com recobrimento cuspídeo. No exame clínico, verificou-
           em clínica de pós-graduação, onde ocorreu fratura do ins-  -se uma resposta dolorosa à percussão vertical e à palpação.
           trumento manual (10k) no terço apical do canal mésio-ves-  Foi requisitada uma tomografia computorizada de feixe có-
           tibular, durante a permeabilização apical. Tentou-se, sem   nico de campo de visão direcionado, que evidenciou uma
           sucesso, o bypass e a remoção do fragmento via retratamen-  extensa lesão periapical radiolúcida envolvendo ambas as
           to ortógrado. Para correta desinfeção e selamento apical,   raízes vestibulares, sem evidência de cura desde a realiza-
           decidiu-se pela obturação até o instrumento fraturado com   ção do primeiro tratamento endodôntico. O diagnóstico pul-
           cimento biocerâmico. Foi marcada microcirurgia endodôn-  po-periapical foi de tratamento endodôntico prévio com
           tica para remover o fragmento via retrógrada e recessão   abcesso apical agudo. Depois de apresentadas as opções
           apical da raiz mésio-vestibular. Acompanhamentos periódi-  terapêuticas ao paciente, optou-se pela realização de micro-
           cos de 6 meses revelaram significativa redução da lesão api-  cirurgia endodôntica das raízes vestibulares da peça dentá-
           cal e ausência de sintomatologia. Discussão e conclusões:   ria e concomitante biópsia excisional da lesão. O exame
           Um instrumento fraturado no terço apical limita a instru-  anatomopatológico confirmou tratar- se de um quisto odon-
           mentação e a subsequente desinfeção do sistema de canais,   togénico inflamatório radicular. A consulta de reavaliação,
           comprometendo o selamento apical. Segundo Madarati et   1 ano depois, confirmou evolução favorável da lesão peria-
           al., o sucesso do tratamento endodôntico reduz-se para 47%   pical e ausência de sintomatologia. Discussão e conclusões:
           na presença de um fragmento em um dente com periodon-  A carga microbiana pode permanecer em áreas anatomica-
           tite apical, embora seja necessário considerar outras opções   mente protegidas e ramificações do sistema canalar apical,
           de tratamento. A execução do ato clínico por um profissional   assim como fora do sistema canalar, tornando-as inacessí-
           treinado é crucial, pois este pode remover os instrumentos   veis à terapia endodôntica convencional. Isso pode justificar
           separados sem sacrificar o tecido dentário. O uso de micros-  o fracasso, mesmo em tratamentos realizados segundo os
           cópio, segundo Floratos et al., permite uma abordagem mais   padrões recomendados. A preferência do paciente e a aná-
           detalhada e conservadora, sendo um fator preponderante   lise risco-benefício podem influenciar a abordagem da pe-
           na microcirurgia e impactando a morbidade e o resultado   riodontite apical persistente, optando-se pela microcirurgia
           do tratamento. Rodriguez et al. sugeriram que informações   endodôntica, em vez do retratamento endodôntico não-ci-
           obtidas por imagens de CBCT pré-operatórias podem in-  rúrgico. Este caso pretende mostrar que a cicatrização ob-
           fluenciar o diagnóstico, relatando que em 27,3% dos casos   servada demostra a eficácia e a previsibilidade das técnicas
           houve alterações no plano de tratamento após a visualiza-  microcirúrgicas em Endodontia.
           ção dessas imagens.                                http://doi.org/10.24873/j.rpemd.2024.12.1386
           http://doi.org/10.24873/j.rpemd.2024.12.1385
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