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80 rev port estomatol med dent cir maxilofac. 2024;64(S1):73-90
#SPE-C15 Microcirurgia endodôntica para #SPE-C16 Microcirurgia endodôntica
remoção de instrumento fraturado do dente 16 de um primeiro molar superior: A propósito
– Relato de caso de um caso clínico
Ana Sofia Oliveira*, Carla Costa, Paulo Miller, Sónia Ferreira, Nuno Rodrigues dos Santos*, Sofia Moura Furtado,
António Melo-Ferraz, Valter Fernandes Jorge N.R. Martins, Isabel Vasconcelos, Mário Rito Pereira,
António Ginjeira
Instituto Universitário de Ciências da Saúde – CESPU
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa
Introdução: A fratura de um instrumento no terço apical
de um dente com periodontite apical pode levar a um prog- Introdução: Um dos principais objetivos do tratamento
nóstico endodôntico reservado. Ultrapassar ou remover o endodôntico é o tratamento e a prevenção da periodontite
fragmento, assim como a desinfeção do canal dificultada, apical causada pela presença de infeção no espaço do siste-
pode comprometer a resolução desta patologia. A lesão pe- ma canalar. Contudo, a patologia pode persistir após o tra-
riapical, a anatomia do canal e a localização do fragmento tamento endodôntico primário e até mesmo após o retrata-
devem ser considerados na decisão da abordagem clínica. mento endodôntico, podendo então exigir uma abordagem
Fatores como a visão direta do instrumento, a presença de cirúrgica. Descrição do caso clínico: Paciente do sexo mas-
patologia prévia, o momento da fratura, o tamanho e o tipo culino, 53 anos, sem antecedentes médicos relevantes, apre-
de fragmento, e a destruição dentinária do canal também sentou-se com queixas de dor moderada e espontânea, his-
são importantes. Descrição do caso clínico: Paciente de 38 tória de edema extra oral e abcesso associado ao dente 16,
anos, sem patologias significativas, apresentava periodon- que já havia sido submetido a tratamento endodôntico não
tite apical sintomática no dente 16, com tratamento previa- cirúrgico 18 meses antes, com posterior reabilitação indire-
mente iniciado. Referenciado para consulta de endodontia ta com recobrimento cuspídeo. No exame clínico, verificou-
em clínica de pós-graduação, onde ocorreu fratura do ins- -se uma resposta dolorosa à percussão vertical e à palpação.
trumento manual (10k) no terço apical do canal mésio-ves- Foi requisitada uma tomografia computorizada de feixe có-
tibular, durante a permeabilização apical. Tentou-se, sem nico de campo de visão direcionado, que evidenciou uma
sucesso, o bypass e a remoção do fragmento via retratamen- extensa lesão periapical radiolúcida envolvendo ambas as
to ortógrado. Para correta desinfeção e selamento apical, raízes vestibulares, sem evidência de cura desde a realiza-
decidiu-se pela obturação até o instrumento fraturado com ção do primeiro tratamento endodôntico. O diagnóstico pul-
cimento biocerâmico. Foi marcada microcirurgia endodôn- po-periapical foi de tratamento endodôntico prévio com
tica para remover o fragmento via retrógrada e recessão abcesso apical agudo. Depois de apresentadas as opções
apical da raiz mésio-vestibular. Acompanhamentos periódi- terapêuticas ao paciente, optou-se pela realização de micro-
cos de 6 meses revelaram significativa redução da lesão api- cirurgia endodôntica das raízes vestibulares da peça dentá-
cal e ausência de sintomatologia. Discussão e conclusões: ria e concomitante biópsia excisional da lesão. O exame
Um instrumento fraturado no terço apical limita a instru- anatomopatológico confirmou tratar- se de um quisto odon-
mentação e a subsequente desinfeção do sistema de canais, togénico inflamatório radicular. A consulta de reavaliação,
comprometendo o selamento apical. Segundo Madarati et 1 ano depois, confirmou evolução favorável da lesão peria-
al., o sucesso do tratamento endodôntico reduz-se para 47% pical e ausência de sintomatologia. Discussão e conclusões:
na presença de um fragmento em um dente com periodon- A carga microbiana pode permanecer em áreas anatomica-
tite apical, embora seja necessário considerar outras opções mente protegidas e ramificações do sistema canalar apical,
de tratamento. A execução do ato clínico por um profissional assim como fora do sistema canalar, tornando-as inacessí-
treinado é crucial, pois este pode remover os instrumentos veis à terapia endodôntica convencional. Isso pode justificar
separados sem sacrificar o tecido dentário. O uso de micros- o fracasso, mesmo em tratamentos realizados segundo os
cópio, segundo Floratos et al., permite uma abordagem mais padrões recomendados. A preferência do paciente e a aná-
detalhada e conservadora, sendo um fator preponderante lise risco-benefício podem influenciar a abordagem da pe-
na microcirurgia e impactando a morbidade e o resultado riodontite apical persistente, optando-se pela microcirurgia
do tratamento. Rodriguez et al. sugeriram que informações endodôntica, em vez do retratamento endodôntico não-ci-
obtidas por imagens de CBCT pré-operatórias podem in- rúrgico. Este caso pretende mostrar que a cicatrização ob-
fluenciar o diagnóstico, relatando que em 27,3% dos casos servada demostra a eficácia e a previsibilidade das técnicas
houve alterações no plano de tratamento após a visualiza- microcirúrgicas em Endodontia.
ção dessas imagens. http://doi.org/10.24873/j.rpemd.2024.12.1386
http://doi.org/10.24873/j.rpemd.2024.12.1385

