Page 78 - SPEMD_65-SUPL1
P. 78
76 rev port estomatol med dent cir maxilofac. 2024;64(S1):73-90
#SPE-C07 Diagnóstico diferencial de fratura #SPE-C08 Retratamento endodôntico de primeiro
radicular vertical: A propósito de um caso clínico molar inferior com instrumento fraturado
– Caso clínico
Sofia Moura Furtado*, Nuno Rodrigues dos Santos,
Isabel Beleza de Vasconcelos, Mário Rito Pereira, Joana Araújo Carvalho*, Ana Filipa Marques,
António Ginjeira Rui Pereira da Costa, Mário Rito Pereira, Jorge N.R. Martins,
António Ginjeira
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa
Introdução: A fratura radicular vertical é definida como
uma fratura que se inicia nas paredes internas do canal ra- Introdução: A probabilidade de insucesso do retrata-
dicular e se estende para a superfície radicular. Os sinais e mento endodôntico é maior quando há a presença de ins-
sintomas clínicos, bem como as imagens radiográficas, são trumento(s) fraturado(s) no sistema de canais radiculares,
frequentemente semelhantes aos associados a um abcesso que impedem uma desinfeção e conformação completas de
apical crónico e a determinadas manifestações de doença toda a complexidade anatómica, principalmente quando
periodontal. Assim, o seu diagnóstico e tratamento consti- existem lesões periapicais prévias. Descrição do caso clíni-
tuem um desafio, podendo o diagnóstico incorreto desta co: Paciente de 44 anos do género feminino compareceu à
entidade levar à extração precoce da peça dentária. Este clínica da pós-graduação devido a dor à mastigação no den-
caso clínico pretende evidenciar a importância do diagnós- te 46 e na região submandibular. Após exame clínico revelou
tico diferencial de fratura. Descrição do caso clínico: Um tratamento endodôntico prévio e testes de percussão com
paciente do sexo masculino apresentou se assintomático, resposta positiva. O exame radiográfico e tomográfico evi-
com uma fístula numa localização cervical, por vestibular denciou lesão perirradicular associada ao dente 46 e a pre-
do dente 47. O exame radiográfico revelou uma extensa le- sença de instrumento fraturado no canal mesio-vestibular
são periapical radiolúcida em forma de “J”, a envolver o den- e para lá da zona de confluência com o canal mesio-lingual.
te. No exame clínico, não havia dor à percussão vertical, O diagnóstico determinado foi dente previamente tratado e
horizontal nem à palpação, e não houve resposta aos testes periodontite apical sintomática. O plano de tratamento pro-
de sensibilidade pulpar (frio e elétrico). O dente apresentava posto à paciente foi o retratamento endodôntico com pos-
uma sondagem de 10mm num ponto único (centro-vestibu- terior reabilitação fixa. Foi realizada restauração pré-endo-
lar). O diagnóstico pulpar e periapical estabelecido foi de dôntica. A desobturação foi efetuada com Reciproc R25. O
tratamento previamente iniciado e abcesso apical crónico, bypass realizou-se pelo canal mesio-lingual com recurso a
respetivamente. Contudo, devido à presença de fístula numa limas C-Pilot 8, 10 e 15. Após obtenção de permeabilidade
localização cervical e de uma sondagem profunda e locali- apical, realizou-se instrumentação no canal mesio-lingual
zada, foi imperativo o diagnóstico diferencial com fratura. com Wave One Gold Medium, no canal distal com Wave One
Numa primeira fase, realizou-se um CBCT e, depois de rea- Gold Large e no canal mesio-vestibular, apenas até à lima
lizada a cavidade de acesso, usou-se azul de metileno e am- fraturada com a lima Wave One Gold Primary. A irrigação foi
pliação do microscópio clínico, para detetar possíveis traços efetuada com hipoclorito de sódio 5,25% e ácido cítrico 10%,
de fratura, que não foram identificados. Procedeu-se com o ativados sónicamente com Endoactivator. A obturação foi
tratamento endodôntico não cirúrgico e posterior reabilita- efetuada com técnica de onda continua de condensação e o
ção em resina composta. A reavaliação foi realizada após selamento intracoronário com Filtek Supreme Flow. Após
um ano e verificou-se que a lesão periapical se encontrava conclusão do tratamento, foi realizada a reabilitação da peça
em fase de cura. Discussão e conclusões: Os meios comple- dentária assim como a consulta de follow-up de 1 ano, re-
mentares de diagnóstico como o CBCT, a utilização de azul velando melhoria da lesão. Discussão e conclusões: A To-
de metileno, e a utilização do microscópio clínico, são ful- mografia Computorizada de Feixe Cónico é essencial para o
crais no processo de diagnóstico diferencial de uma fratura, planeamento prévio do tratamento endodôntico. Neste caso,
sendo que só podemos obter um diagnóstico definitivo como os canais mesiais eram confluentes, optou-se por rea-
quando a vemos. Este caso pretende mostrar que o diagnós- lizar o bypass no canal mesio-lingual, aspeto que foi essen-
tico definitivo de fratura não pode ser realizado a partir de cial para a desinfeção canalar. As tentativas de remoção de
uma radiografia periapical com uma imagem em “J”, da pre- instrumentos fraturados podem estar associadas a compli-
sença de uma fístula numa região cervical, ou pela presença cações que podem comprometer o prognóstico do dente. O
de um ponto de sondagem único e profundo. Deve ser vi- bypass do instrumento, estando este localizado no terço
sualizada através de inspeção direta ou de uma cirurgia ex- apical do canal radicular ou para além da curvatura, pode
ploratória, caso contrário, o tratamento endodôntico deve ser uma opção de tratamento adequada permitindo preser-
ser realizado. var o máximo de estrutura dentinária.
http://doi.org/10.24873/j.rpemd.2024.12.1377 http://doi.org/10.24873/j.rpemd.2024.12.1378

