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           #SPE-C23 Reabsorção cervical externa               #SPE-C24 Tratamento endodôntico num
           – A propósito de um caso clínico                   dens invaginatus tipo II de Oehlers – Caso clínico
           Nuno Gonçalves*, Shirin Behdad, Joana Cordeiro,    Salomé Ferreira*, Marco Pestana
           Mário Rito Pereira, Sérgio Quaresma, António Ginjeira
                                                              Instituto Universitário de Ciências da Saúde – CESPU
           Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa
                                                                 Introdução: Dens invaginatus é uma alteração do desen-
             Introdução: A reabsorção cervical externa geralmente   volvimento dentário que consiste numa invaginação do ór-
           inicia-se na região cervical da raiz, abaixo da inserção epi-  gão do esmalte antes da mineralização, a qual pode ser pro-
           telial, com envolvimento do ligamento periodontal, cemen-  pícia à invasão bacteriana responsável pelo
           to e dentina nas fases iniciais, podendo progredir em várias   desenvolvimento de patologia pulpar e/ou periapical. Des-
           direções e extensão, até à polpa dentária nos casos mais   crição do caso clínico: Paciente do sexo feminino, 14 anos,
           avançados. Estão descritas diferentes abordagens para o seu   foi referenciada em Julho de 2020 para avaliação de fístula
           tratamento, dependendo da localização e extensão da lesão,   na zona vestibular do dente 25. Com desconforto à palpação
           visando a eliminação do tecido fibrovascular de granulação   vestibular, sem outros sintomas. Sem antecedentes relevan-
           e a reconstrução do defeito. A tomografia axial de feixe có-  tes na história médica. Com resposta negativa aos testes de
           nico é um exame radiográfico essencial para o diagnóstico   sensibilidade pulpar. Na radiografia periapical foi observada
           e plano de tratamento. Descrição do caso clínico: Paciente   uma variação anatómica compatível com dens in dente com
           do sexo masculino, 20 anos, referenciado por pigmentação   ápice aberto, pelo que foi solicitada uma tomografia com-
           rosa na zona cervical do dente 11, com o diagnóstico pulpar   putorizada de feixe cónico. Foi estabelecido o diagnóstico de
           de pulpite irreversível sintomática e diagnóstico periapical   necrose pulpar e abcesso apical crónico, e dens invaginatus
           de tecidos periapicais normais. Foram realizadas radiogra-  tipo II de Oehlers. Procedeu-se à abertura coronária sob am-
           fias periapicais e tridimensionais com tomografia axial   pliação com microscópio e remoção da invaginação com
           computorizada de feixe cónico e obtido o diagnóstico de   pontas ultrassónicas diamantadas. O canal foi instrumen-
           reabsorção cervical externa com classificação tridimensio-  tado com limas manuais e irrigado com hipoclorito de sódio
           nal 2Bd. Foi realizado o tratamento endodôntico em sessão   2,5% e colocada uma medicação intracanalar com hidróxido
           única com obturação termoplástica com onda contínua de   de cálcio. Na segunda consulta, já com observação de au-
           calor. Na fase cirúrgica foi realizado um retalho de base   sência de fístula, foi removido o hidróxido de cálcio e optou-
           papilar para exposição da cavidade de reabsorção e tecido   -se pela apexificação. Foi realizado um protocolo de irriga-
           de granulação, o qual foi removido com brocas laminadas   ção com hipoclorito 5,25%, colocada uma matriz de
           de contra ângulo. Seguidamente foi colocado ácido triclo-  colagénio na zona apical, de seguida um plug apical com
           roacético 90% durante 1 minuto, após o qual a cavidade foi   MTA e obturação do restante canal com gutta-percha termo-
           restaurada com resina composta e o retalho foi reposto e   plástica, selamento intracoronário com ionómero de vidro
           suturado. O acompanhamento clínico após 1 ano revelou   e restauração direta definitiva com resina composta. Após
           ausência de sintomas clínicos e tecidos periodontais sau-  controlos de 6 meses e 2 anos, o dente encontra-se assinto-
           dáveis. Discussão e conclusões: A coloração rosa da coroa   mático e em função. Discussão e conclusões: Dens invagi-
           clínica pode ser observada na reabsorção cervical externa   natus é uma anomalia na anatomia dentária, cuja incidên-
           bem como na reabsorção interna, sendo fundamental o   cia varia de 0,04% a 10%. O caso clínico pode ser classificado
           diagnóstico diferencial entre ambas, tal como entre a reab-  como tipo II de Oehlers, que consiste numa invaginação ao
           sorção externa e cárie cervical. O diagnóstico precoce deste   longo da raiz do dente sem atingimentos dos tecidos peria-
           tipo de reabsorção nem sempre é possível, dada por vezes   picais. O tratamento conservador deverá ser a primeira op-
           a ausência de sintomas iniciais, uma vez que a apresenta-  ção, que pode tornar-se complexa devido à imprevisibilida-
           ção clínica e radiográfica deste tipo de reabsorção radicular   de da anatomia interna. No caso clínico descrito, teve
           é altamente variável, muitas vezes tratando-se de um acha-  importância o planeamento da abordagem com CBCT, a
           do clínico e/ou radiográfico, pelo que o tratamento constitui   realização do tratamento sob ampliação com microscópio,
           um desafio clínico, requerendo diferentes materiais e téc-  a qualidade do selamento apical e intracoronário para evitar
           nicas para a manutenção funcional dos dentes e tecidos   infiltrações que pudessem comprometer o tratamento. Em-
           biológicos adjacentes afetados. As reabsorções cervicais   bora a frequência de dens invaginatus seja relativamente
           externas nas quais o acesso e consequentemente um trata-  baixa, cada caso deve ser analisado radiograficamente para
           mento mais conservador seja possível, apresentam um me-  um correto seguimento do caso.
           lhor prognóstico.                                  http://doi.org/10.24873/j.rpemd.2024.12.1394
           http://doi.org/10.24873/j.rpemd.2024.12.1393
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