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XXXVIII REUNIÃO ANUAL DA SPAIC / RESUMOS DAS COMUNICAÇÕES ORAIS E DOS POSTERS





          Conclusão: O SHMF é raro, ainda mais quando os fármacos sus-  -Aldrich 2, autossómica recessiva, em que a alteração do gene
          peitos são AH e CCT. A RH a AH foi confirmada, no entanto, o   WIPF1 pode induzir uma desregulação da proteína codificada pelo
          estudo alergológico permanece incompleto, tendo sido adiado   gene WAS e, por essa via, exibir uma apresentação clínica em tudo
          devido a gravidez e amamentação. Este caso mostra ‑se desafiante   semelhante à síndrome de Wiskott -Aldrich “clássica”.
          não  só  em  termos  diagnósticos  como  também terapêuticos,
          salientando -se que o Omalizumab foi iniciado como terapêutica
          off label e mantido durante a gravidez, baseado na permissa de que   PO 59 – Anafilaxia ao azul patente: Caso clínico
                                                                     1
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                                                                                      1
                                                                                            1
          o risco seria inferior ao benefício.              M Pires Alves , J Azevedo , C Ribeiro , E Faria , P Matos , A
                                                            Todo Bom 1
                                                            1   Serviço de Imunoalergologia do Centro Hospitalar e
          PO 58 – Imunodeficiências primárias. Apresentação de   Universitário de Coimbra, Coimbra, PORTUGAL
          um caso clínico.                                  2   Serviço de Pneumologia do Instituto Português de Oncologia
          V L Teixeira , J Torres Costa 1                    de Coimbra, Coimbra, PORTUGAL
                   1,2
          1   Serviço de Imunoalergologia, Centro Hospitalar São João,
           Porto, PORTUGAL                                  Introdução: O azul patente é um corante azul sintético, ampla-
          2   Internato Geral do Ano Comum, Porto, PORTUGAL  mente utilizado na biópsia do gânglio sentinela (GS) no cancro da
                                                            mama, melanoma maligno e outras doenças malignas. O seu uso
          Objectivo: As imunodeficiências primárias são um grupo diver-  crescente conduziu ao aumento da ocorrência de reações alérgi-
          sificado de doenças do sistema imunológico. Neste artigo apre-  cas, com características sugestivas de hipersensibilidade mediada
          sentamos um caso clínico e aproveitamos a sua discussão para   pela IgE.
          efetuar uma revisão da literatura.                Caso clínico: Mulher, 54 anos, com carcinoma ductal in situ da
          Caso Clínico: Doente do sexo masculino, 34 anos, orientado   mama esquerda, proposta para pesquisa de GS e mastectomia,
          para a consulta de Imunoalergologia por agudização do eczema   seguida de reconstrução. Após indução anestésica e 5 minutos
          crónico. Como antecedentes pessoais apresentava trombocito-  após administração subcutânea de 1 ml de azul patente apresentou
          penia congénita, infeções respiratórias recorrentes e otite média   dessaturação, taquicardia, hipotensão, erupção cutânea azulada e
          crónica. Na TC torácica observaram -se bronquiectasias. A imu-  edema cervical. Os fármacos administrados até ao momento da
          nofenotipagem indicou alterações primárias nos linfócitos B e o   reação foram: cefazolina, midazolam, fentanil, propofol, rocurónio
          doseamento das imunoglobulinas demonstrou uma diminuição   e azul patente. A intervenção cirúrgica não se realizou e a doente
          marcada das IgG total (102 mg/dL) e específicas (IgG1: 85,2 mg/dL;   teve necessidade de internamento em Cuidados Intensivos para
          IgG2: 11,5 mg/dL; IgG3: 3,8 mg/dL; IgG4: 0,4 mg/dL), IgA <8 mg/  tratamento, tendo como complicação adicional um pneumotórax.
          dL e IgM <5 mg/dL.                                Não foi feito doseamento da triptase. Antecedentes pessoais de
          Resultados: A imunodeficiência comum variável é caracterizada   rinite, intolerância à lactose e fotossensibilidade à ofloxacina, e já
          pela alteração da resposta na imunidade humoral e celular, que   tinha sido submetida previamente a 2 cirurgias sem intercorrências.
          clinicamente se traduz por um aumento na incidência de infeções   Sem contacto médico prévio com azul patente. Foi referenciada à
          e fenómenos autoimunes, bem como um maior risco de doença   Consulta de Alergia a Fármacos para estudo. As hipóteses de
          neoplásica.  As  síndromes  de  Wiskott -Aldrich  e  de  Wiskott-  alergia ao látex, relaxante neuromuscular, cefazolina, propofol e
          -Aldrich 2 caracterizam -se pela presença de trombocitopenia   fentanil foram excluídas pelos testes cutâneos prick (TCP) e in-
          grave (< 70 000 plaquetas/mm³), eczema, risco aumentado de   tradérmicos (TID) negativos. Também foi testada clorhexidina que
          reações autoimunes e de infeções (cutâneas, pulmonares ou opor-  foi negativa nos TCP e TID. Foram testados o azul patente (posi-
          tunistas por Pneumocystis jirovecii, VIH, citomegalovírus, vírus   tivo no prick) e, em alternativa, o azul de metileno (positivo ape-
          Epstein ‑Barr, entre outros). Ao contrário da imunodeficiência   nas no TID), confirmando um mecanismo mediado pela IgE em
          comum variável, que não apresenta distúrbios genéticos típicos e   ambos os corantes. A doente foi reoperada sem a utilização de
          de inequívoco valor diagnóstico, a síndrome de Wiskott -Aldrich   corantes azuis e com todos os restantes fármacos usados na pri-
          apresenta alterações ligadas ao cromossoma X (gene WAS) com   meira cirurgia, sem intercorrências. Para o GS fez linfocintigrafia
          consequente desregulação da homeostasia linfocítica. O doente   com nanocolóides de albumina -99mTc.
          descrito cumpre critérios de diagnóstico da síndrome de Wiskott-  Conclusões: Apesar de rara, a anafilaxia ao azul patente pode
          -Aldrich, contudo, é na linha paterna da história familiar que en-  ser bastante grave. Numa anafilaxia peri ‑operatória é essencial
          contramos antecedentes de trombocitopenia, eczema e maior   a investigação do agente responsável e a obtenção de alternati-
          suscetibilidade a infeções.                       vas terapêuticas. Os testes cutâneos com azul patente foram
          Conclusões: No caso apresentado, a trombocitopenia, o dese-  úteis para confirmar o diagnóstico de alergia a este corante, bem
          quilíbrio linfocítico, as alterações cutâneas, as infeções recorrentes   como o momento da reação e as suas características clínicas.
          e as complicações autoimunes poderão apontar para o diagnósti-  Os testes com azul de metileno como alternativa terapêutica
          co de síndrome de Wiskott -Aldrich. No entanto, sendo esta uma   também foram importantes por identificarem provável reativi-
          doença ligada ao X, a história familiar paterna e o tamanho normal   dade cruzada entre ambos que impossibilitou a sua utilização na
          das plaquetas poderão estar associadas à síndrome de Wiskott-  nova cirurgia.


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                                             REVIST A POR TUGUESA DE IMUNO ALERGOLOGIA
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