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XXXVIII REUNIÃO ANUAL DA SPAIC / RESUMOS DAS COMUNICAÇÕES ORAIS E DOS POSTERS
te alérgica persistente grave, hipertrofia dos cornetos (turbinec- de dor abdominal intensa recorreu ao Serviço de Urgência da sua
tomia em 2012) e polipose nasal; dermatite atópica (DA) desde os área de residência. Inicialmente, foi excluído abdómen agudo ci-
22 anos, com agravamento progressivo, com distribuição exube- rúrgico. Realizou ecografia abdominal, que mostrou pâncreas glo-
rante por todo o tegumento, incluindo flexuras, com aspetos nu- boso, tumefacto com estrutura heterogénea e hipoecogénica, sem
mulares e liquenificação, em seguimento por Dermatologia e sob outras alterações. Analiticamente destacava -se Proteína C Reati-
fototerapia desde 2016, com discreta melhoria; RGE ligeiro; per- va (PCR) aumentada -17,3mg/dl, sem alterações nos restantes pa-
turbação de ansiedade; infeção por influenza A (2014) e osteopenia râmetros analíticos (hemograma, provas hepáticas incluindo lipase
de L1. Irmão com bronquite crónica e mãe com DPOC. e amilase). Foi tratada com várias terapêuticas analgésicas (Para-
Desde o internamento medicada com corticoterapia inalada em cetamol, Butilescopalamina, Metamizol e Tramadol) sem melhoria
altas doses, broncodilatação de ação longa (LABA/LAMA), anti- da clínica de dor, ocorrendo apenas melhoria completa da dor
leucotrineos e anti -histamínico. Sem alergias medicamentosas/ após a administração de C1 ‑inibidor. A doente repetiu ecografia
alimentares. Ex -fumadora (2012), CT 5UMA. Reside em ambiente abdominal de controlo 24horas(h), com visualização de pâncreas
urbano, casa arejada, sem contacto regular com animais. Exame e baço sem anomalias e moderada quantidade de líquido livre no
objetivo: marcada obstrução nasal, eczema muito exuberante e espaço de Morrison e na pélvis no fundo de saco de Douglas.
hipoventilação global à auscultação pulmonar. Analiticamente também se verificou uma normalização da PCR.
ECDT: eosinofilia periférica (2.6%), IgE 5870UI/mL, doseamento Teve alta 72h depois, totalmente assintomática com o diagnóstico
de A1AT e autoimunidade normal; polissensibilização para gramí- de crise abdominal de AEH por incumprimento terapêutico.
neas, árvores, ácaros e fâneros; síndrome obstrutivo ligeiro, com Conclusões: As crises abdominais com acometimento pancreá-
BD positiva e aumento do volume residual, FeNO 59ppb; TC -tórax tico são raras. A sua fisiopatologia é incerta, mas pensa ‑se ser
com micronodulação centrilobular e encarceramento aéreo; TC- secundária a edema do ducto pancreático ou da ampola de Vater,
‑SPN com hipertrofia dos cornetos e redução da permeabilidade. seguida de obstrução do mesmo. O AEH deve ser considerado
Apesar da adequação dos parâmetros terapêuticos, a doente man- como possível causa de edema pancreático/pancreatite e o C1
teve sintomas diários ao longo de 1 ano de seguimento, com graves inibidor/Icatibant podem ser uma opção terapêutica de rápida ação.
implicações na qualidade de vida, muito prejudicada pela exube- Os autores descrevem 1 caso de crise de AEH com edema exclu-
rante DA. Optou -se por iniciar omalizumab, 600mg quinzenal, com sivamente pancreático em que a terapêutica com C1 inibidor foi
diminuição dos sintomas respiratórios e com extraordinária me- essencial para o tratamento.
lhoria das lesões cutâneas logo após a 4.ª toma.
O omalizumab está aprovado para a asma alérgica grave,
pretendendo -se com a exposição deste caso alertar para a sua PO 70 – Angioedema com 20 anos de evolução
eficácia noutras patologias alérgicas, refratárias a tratamentos – Será alergia?
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convencionais, como foi notável nesta doente. R A Fernandes , A Pinho , I Carrapatoso , A Todo -Bom 1
1 Serviço de Imunoalergologia, CHUC, Coimbra, PORTUGAL
2 Serviço de Dermatologia e Venereologia, CHUC, Coimbra,
PO 69 – Angioedema hereditário – pancreatite? – Caso PORTUGAL
clínico
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T Lourenço , A Lopes , MP Barbosa 1;2 Introdução: Angioedema (AE) é o edema doloroso e não pruri-
1 Serviço de Imunoalergologia, Hospital Santa Maria – Centro ginoso da submucosa, tecido celular subcutâneo e da derme pro-
Hospitalar Lisboa Norte, EPE, Lisboa, PORTUGAL funda devido ao aumento da permeabilidade vascular. A sua etio-
2 Clínica Universitária de Imunoalergologia, Faculdade de logia pode ser histaminérgica, física, infeciosa, auto -imune,
Medicina da Universidade de Lisboa, Lisboa, PORTUGAL medicamentosa e por deficiência de C1 ‑inibidor; embora cerca de
40% dos casos sejam idiopáticos.
Introdução: As crises abdominais ocorrem em 90% dos casos de Descrição do caso: Doente do sexo feminino com 73 anos de
Angioedema Hereditário (AEH), em 21% são a única manifestação, idade com episódios recorrentes de AE da hemiface e pavilhão
dificultando o diagnóstico diferencial entre crise abdominal de AEH auricular direito com 20 anos de evolução. Todos os episódios
e abdómen agudo de outra etiologia. eram acompanhados de febre, confusão mental e aumento dos
Caso clínico: Mulher de 39 anos, seguida na consulta de Imunoa- parâmetros inflamatórios, apresentando queixas de aperto orofa-
lergologia (IA) desde os 25 anos por AEH tipo II, com terapêutica ríngeo nos últimos. Inicialmente cerca de 1 episódio por ano, mas
e seguimento muito irregular. Desde há vários anos e com agrava- atualmente com maior frequência. Em todos os episódios recorria
mento progressivo, apresentava crises de dor abdominal associa- ao Serviço de Urgência. Negava antecedentes de relevo e medi-
das a vómitos, de maior intensidade no período pré -menstrual. cação habitual. O exame ORL revelou otorreia e estenose do
Avaliação em consulta de Medicina Geral e Familiar com realização canal auditivo externo direito (CAED). Fez TC -CE que evidenciou
de colonoscopia, endoscopia digestiva alta e ressonância magné- um padrão esclerótico da mastóide direita e alterações teciduais
tica pélvica, não revelou alterações. Foi reavaliada em consulta de que poderiam estar em relação com alterações inflamatórias. A
IA após 9 anos de ausência tendo reiniciado terapêutica com Sta- não identificação de foco infecioso, conduziu à interpretação do
nozolol 2mg/dia com redução progressiva das queixas. Por crise quadro como AE histaminérgico e realizou terapêutica com cor-
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REVIST A POR TUGUESA DE IMUNO ALERGOLOGIA

