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Fátima Ferreira, Filipe Inácio
tinuam a ter testes cutâneos positivos e IgE específica desencadeada pela ingestão de trigo. Dois anos após o
para extrato total de trigo elevada. Alguns autores cons- início obteve -se dessensibilização em 60% dos doentes .
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tataram níveis de IgE específica para extrato total entre Outros estão em curso.
0,35 -23,9 kU/L (mediana 3,0 kU/L) 10,24 .
O gold standard do diagnóstico de alergia ao trigo é a
PPO. Realiza -se, geralmente, em protocolo aberto, dado ANAFILAXIA INDUZIDA POR EXERCÍCIO
que a grande maioria das reações é de caráter objetivo. DEPENDENTE DA INGESTÃO DE TRIGO
Tem sido sugerido iniciar a prova com pequenas doses (AIEDT)
de proteína de trigo (1 -50 mg), fazendo incrementos de
dose a cada 60 minutos (a digestão do trigo é mais lenta A anafilaxia induzida por exercício (AIE) é um tipo par-
do que a do ovo ou do leite), terminando com uma dose ticular de anafilaxia e pode ocorrer independentemente de
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cumulativa entre 0.5 -1 mg de proteína de trigo . A aler- ingestão alimentar ou em relação estreita com ingestão de
gia ao trigo é diagnosticada quando a prova é positiva até alimentos (AIEDA). O trigo é, atualmente, reconhecido
2 horas após a ingestão da última dose. como uma importante e frequente causa de AIEDA, tam-
bém designada AIEDT. Pode manifestar -se em qualquer
Terapêutica/Orientação idade, mas os adolescentes e adultos sem história anterior
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Uma vez confirmada a presença de alergia ao trigo, de alergia alimentar parecem ser os mais envolvidos .
recomenda -se que o indivíduo cumpra rigorosas medidas O diagnóstico preciso de AIEDT é extremamente
de evicção deste cereal e dos que tiverem reação cruza- importante para evitar reações graves recorrentes. No
da (por exemplo, centeio, cevada), mas essa evicção deve entanto, foi referido um período entre 32 -62 meses até
ser orientada com a ajuda de provas de provocação . ao diagnóstico .
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Pensa -se que diferentes espécies de trigo têm a mesma Usando péptidos sintéticos, já se identificaram sete
alergenicidade e por isso não é recomendado aos doen- epitopos na sequência primária das ómega -5 -gliadinas
tes com alergia ao trigo tentar outras variantes. Não há como os alergénios major.
estudos que descrevam alterações da alergenicidade do
trigo durante o processamento . Diagnóstico
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Os doentes devem ser instruídos quanto à leitura A história clínica detalhada é fundamental. As apre-
atenta e sistemática dos rótulos, para evitar ingestões sentações clínicas incluem prurido, urticária, flushing,
acidentais que poderão ser graves. Há ainda a considerar angioedema, dispneia, disfagia, sensação de aperto na
eventuais exposições acidentais por contaminação de garganta, rouquidão, aperto torácico, síncope, sudação
alimentos com proteínas de trigo, as quais podem ser profusa, náuseas, dor abdominal tipo cólica, diarreia, que
suficientes para desenvolver sintomas graves. ocorrem durante a prática de exercício de intensidade
A identificação pessoal da existência de uma alergia variável (habitualmente média / alta intensidade) até 4
é recomendada. De acordo com o padrão de reação de- horas após uma refeição que incluiu trigo .
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monstrado pelo doente, deve ser igualmente prescrita Devem utilizar -se testes cutâneos em picada para os
medicação de alívio e life -saving, podendo esta incluir extratos já referidos e/ou doseamento de IgE específica
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adrenalina para autoadministração, enfatizando junto do para trigo, glúten e ómega -5 -gliadina, quando disponíveis .
doente a necessidade de a transportar consigo. A AIEDT poderá ser confirmada, se o diagnóstico for
Foi publicado um estudo referindo -se à primeira uti- questionável, após reprodução das condições necessárias
lização de imunoterapia oral em jovens com anafilaxia ao aparecimento dos sintomas, o que poderá passar pela
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REVIST A POR TUGUESA DE IMUNO ALERGOLOGIA