Page 24 - RPIA_26-3
P. 24
Fátima Ferreira, Filipe Inácio
volvem especialidades como gastroenterologia, nutrição do é tomado como prova indireta da presença de
e, idealmente, psicologia da saúde. lesão intestinal e a biópsia duodenal é desnecessária
A doença celíaca é uma doença com morbilidade ex- nos doentes com DH.
tensa associada: défices de vitaminas, minerais, osteope-
nia, anemia, alteração do peso, tumores, como adeno- Terapêutica/Orientação
carcinoma da orofaringe, esófago, pâncreas, intestino Depois do estabelecimento do diagnóstico é recomen-
delgado e cólon, e linfomas. Monitorizações regulares dada evicção de glúten. Na maior parte dos casos as lesões
destes doentes são mandatórias. desaparecem em 6 -8 semanas. Por vezes, nos casos não
respondedores, pode ser necessário instituir terapêutica
com dapsona; a sulfapiridina é uma segunda opção. A su-
DERMATITE HERPETIFORME (DH) plementação com zinco também mostrou alguma vantagem.
Fazemos uma breve abordagem desta entidade, porque,
apesar de não ser frequente, podemos encontrá -la na nos- SENSIBILIDADE AO GLÚTEN (SG) NÃO
sa prática clínica. Trata -se de uma doença cutânea que se ALÉRGICA E NÃO AUTOIMUNE
apresenta por papulovesículas que secam formando crostas,
intensamente pruriginosas e com sensação de queimadura Há casos de reações adversas (desconforto gastroin-
associada; a distribuição é simétrica, caracteristicamente testinal persistente) a produtos contendo glúten nos
atingindo os cotovelos em 90% dos doentes, mas também quais não existem mecanismos alérgicos nem de auto-
as nádegas, joelhos, couro cabeludo, pescoço e tronco. imunidade. Alguns indivíduos referem melhoria quando
A idade média de apresentação é de 40 anos de idade. iniciam uma dieta isenta do mesmo. Embora os sintomas
A sua característica patognomónica é a existência de de SG possam ser semelhantes aos relacionados com a
depósitos cutâneos de IgA, demonstráveis por imuno- doença celíaca, neste caso não existem autoanticorpos
fluorescência em zonas de pele não lesada. específicos ou lesão do intestino delgado. Já em 1978 o
Apenas 10% dos doentes têm sintomas gastrointes- termo sensibilidade não celíaca ao glúten tinha sido liga-
tinais e estes, se existirem, são geralmente ligeiros. No do a um caso clínico que descreveu a resolução de sin-
entanto, encontra -se atrofia de vilosidades no intestino tomas gastrointestinais num doente (excluída doença
44
delgado em cerca de 70% dos doentes. Existe também celíaca) com a adoção de uma dieta isenta de glúten .
um padrão “tipo celíaco” de autoanticorpos no soro (anti- A SG não pode ser distinguida clinicamente da DC,
-tTG / anti -EMA / anti -gliadina). dado que os sintomas podem ser comuns, dor abdominal
(68%) e diarreia (33%). Deve referir -se, porém, que na
Diagnóstico SG existem, com frequência, sintomas extraintestinais,
Consiste em: como alterações do humor (22%), rash (40%), cefaleias
(35%), dor muscular, dor articular, fadiga crónica (33%)
37
– demonstração de IgA em padrão granular ou fibri- e, eventualmente, perda de peso .
lhar em depósitos cutâneos de pele não lesada, por Para além do glúten, outros componentes dos cereais
imunofluorescência, em biópsia cutânea; foram propostos como indutores dos sintomas: os fru-
– evidência serológica de auto -imunidade “tipo celíaca”; tanos (explicam sintomas intestinais, mas não outros) e
– de acordo com as guidelines para o diagnóstico e os inibidores da α -amilase/tripsina (ATI). Quer o glúten
43
tratamento da DH , um diagnóstico de DH prova- quer os ATI ativam o sistema imune inato e adaptativo.
182
REVIST A POR TUGUESA DE IMUNO ALERGOLOGIA