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PATOLOGIA ASSOCIADA AO TRIGO: ALERGIA IGE E NÃO IGE MEDIADA, DOENÇA CELÍACA,
HIPERSENSIBILIDADE NÃO CELÍACA, FODMAP (FERMENTABLE, OLIGOSACCHARIDES,
DISACCHARIDES, MONOSACCHARIDES AND POLYOLS) / ARTIGO DE REVISÃO
O trigo é um dos cinco alimentos mais comuns a
desencadear reações alérgicas em crianças. Na Alema-
nha, Japão e Finlândia foi reportado como o terceiro
alergénio mais comum, depois do leite e do ovo . A pre-
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valência da alergia ao trigo, quer em crianças quer em
adultos, é de cerca de 1% (0,4% -4%), dependendo da
idade e da região . É conhecido que a alergia ao trigo
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IgE mediada é, em geral, transitória, sendo que alguns
estudos concordam que aos 8 anos cerca de 50% terá
adquirido tolerância, 65% aos 12 e aos 16 anos cerca de
75%. Em geral, os indivíduos que não adquirem tolerância
são aqueles com formas mais graves de doença 9,10 .
O quadro clínico da alergia ao trigo depende da idade .
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Os sintomas desenvolvem -se em minutos a 1 -2 horas após
a ingestão de trigo. Nas crianças mais jovens, os sintomas
Figura 4. Potenciais componentes dos cereais que induzem SG gastrointestinais prevalecem, como vómitos, diarreia ou,
mais raramente, dor abdominal tipo cólica. Em cerca de
40% das crianças observam -se sintomas cutâneos sob a
forma de eritema, prurido, urticária, angioedema ou agra-
ALERGIA ALIMENTAR AO TRIGO IGE vamento de um eczema atópico pre existente 12,13 . A anafi-
MEDIADA laxia é a forma mais grave de reação. Nos adolescentes e
adultos prevalecem as formas mais graves de alergia, po-
Proteínas alergénicas e clínica dendo ocorrer sintomas de anafilaxia em 40% -50% dos
As reações IgE mediadas são tipicamente carateriza- casos, o que é típico da alergia ao trigo 1,10,14 .
das por uma inflamação linfocítica tipo T helper 2 com o Tem sido proposto que as albuminas, globulinas e
respetivo padrão de citocinas (interleucina (IL) -4, IL -5, gliadinas são as proteínas mais relevantes nas reações de
IL -13; esta inflamação leva as células B à produção de hipersensibilidade mediadas por anticorpos específicos
anticorpos específicos do tipo IgE. A ligação de antigénios de classe IgE .
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com as moléculas de IgE à superfície de mastócitos e A lista da World Health Organization inclui 27 alergé-
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basófilos leva à desgranulação destas células com liber- nios do trigo . A relevância clínica de muitos deles ainda
tação de mediadores responsáveis pelas alterações fisio- tem que ser determinada.
patológicas e manifestações clínicas. A molécula alergénica melhor compreendida é a
Caraterísticas genéticas individuais e fatores ambien- rω -5 -gliadina (Tri a 19) 10,17 e foi identificada em todos os
tais desempenham um papel no favorecimento da desre- doentes com anafilaxia induzida pelo exercício após in-
gulação imunológica. As caraterísticas intrínsecas dos gestão de trigo, em 80% das crianças com sintomas de
alergénios alimentares também contribuem ou não para anafilaxia após ingestão de trigo e em 20% de crianças
favorecer uma resposta imune alérgica. De facto, os prin- com alergia alimentar e eczema atópico 10,18,19 . Foi já pu-
cipais alergénios alimentares são glicoproteínas de 10 -70 blicada a sequenciação de epitopos da rω -5 -gliadina,
kDa hidrossolúveis, relativamente estáveis ao calor, ácido abrindo perspetivas em termos de abordagem diagnós-
e degradação por proteases. tica e intervenção terapêutica específica .
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REVIST A POR TUGUESA DE IMUNO ALERGOLOGIA