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REAÇÕES ADVERSAS A MEIOS DE CONTRASTE IODADOS / ARTIGO DE REVISÃO
guido pelo iomeprol. Apesar de este e outros artigos 5,11 de e estrutura química do MCRI 3,4,12 -15 ; 2) mecanismo
3,4
referirem o iodixanol como tendo maior probabilidade mediado por IgE , evidenciado por testes cutâneos po-
de causar reações tardias, nenhum artigo descreve as sitivos, identificação de IgE específicas para alguns MCRI
frequências relativas do uso de cada um dos diferentes (Ioxaglato e Ioxitalamato) e a clínica desenvolvida por
MCRI. Os resultados referidos podem dever -se, apenas, alguns doentes com reações anafiláticas reprodutíveis
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ao facto do iodixanol ser mais usado que outros MCRI. após a reexposição ; 3) ativação do sistema de comple-
mento através da via alternativa formando C3a e C5a 16 -18
ou da via clássica 9,19 ; e 4) ativação do sistema da cinina e
FISIOPATOLOGIA bradicinina por inibição direta da enzima conversora da
angiotensina .
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O mecanismo fisiopatológico das reações adversas a Relativamente às reações de hipersensibilidade tardias,
MCRI é diferente consoante se trate de uma reação ime- estas são mediadas por células T. A ativação dos linfócitos
diata ou tardia. T é suportada por várias evidências: 1) existência de tes-
No caso das reações imediatas, múltiplos estímulos tes epicutâneos e intradérmicos tardios positivos; 2)
– ocorrendo isolados ou em simultâneo – podem desen- presença de infiltrados de células T na derme dos locais
cadear a reação. Um deles é a osmolaridade. Os primei- com reação positiva aos testes cutâneos; 3) reapareci-
ros MCRI (HOCM) eram hipertónicos. Um fluido hipe- mento da erupção cutânea após prova de provocação; 4)
rosmolar, independentemente da sua composição, causa capacidade de os MCRI estimularem a proliferação de
vasodilatação, aumento da permeabilidade capilar, cárdio linfócitos T periféricos em doentes com erupções cutâ-
e nefrotoxicidades diretos e desgranulação mastocitária. neas induzidas por MCRI 12,16,20 .
Por induzirem a libertação direta de histamina pelos mas-
tócitos e basófilos, estas reações manifestam -se de forma
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semelhante às reações alérgicas mediadas por IgE . Este CLÍNICA E FATORES DE RISCO
mecanismo explica as reações como sensação de calor
ou dor no local da administração, náuseas, vómitos ou As manifestações clínicas das reações adversas são
mal -estar geral . O aparecimento dos LOCM, por terem bastante heterogéneas (Quadro 4). Este facto dificulta a
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menor osmolalidade, permitiu uma redução significativa capacidade de atribuir como etiologia da reação o MCRI
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no número destas reações adversas . administrado e não outra patologia ou fármaco adminis-
Outro mecanismo fisiopatológico envolvido é a capa- trado em concomitância. Este problema é especialmen-
cidade de a própria molécula do contraste induzir a des- te evidente nas reações tardias, em que o intervalo de
granulação inespecífica de mastócitos e basófilos. Este tempo entre a administração do MCRI e o aparecimen-
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facto foi demonstrado in vitro por Stellato et al. que to dos sintomas pode ir até 10 dias. Um estudo de 2003
observaram diferentes graus de ativação dos mastócitos relatou que 50% das reações adversas tardias não se
entre os MCRI testados, não sendo estas diferenças pas- relacionavam verdadeiramente com o MCRI , o que de-
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síveis de explicação unicamente pela sua concentração monstrou a importância do estudo imunoalergológico
ou osmolalidade 12,14 . destes doentes na identificação de verdadeiras reações
Outros mecanismos envolvem a ativação, inativação imunológicas aos MCRI.
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ou inibição de mediadores vasoativos . Em resumo, os Relativamente às reações imediatas, 70% ocorrem
mecanismos envolvidos nas reações imediatas são: 1) nos primeiros 5 minutos após administração do MCRI e
efeito membranar direto, relacionado com a osmolalida- 96% das reações graves ou fatais manifestam -se nos pri-
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REVIST A POR TUGUESA DE IMUNO ALERGOLOGIA