Page 12 - RPIA_27-1
P. 12
João Marcelino, Sara Carvalho, Fátima Cabral Duarte, Ana Célia Costa, Manuel Pereira Barbosa
INTRODUÇÃO
esde as últimas décadas do século XX que o
desenvolvimento de técnicas de investigação e
Ddiagnóstico tem transformado a prática clínica.
Uma das grandes alterações foi a introdução de meios
de contraste radiológico (MCR) na prática médica.
Atualmente, os MCR são dos fármacos mais usados
na medicina moderna de diagnóstico e, entre eles,
salientam -se os meios de contraste radiológico iodados
(MCRI), pela maior frequência de utilização. Figura 1. Anel de benzeno tri-iodado que constitui a unidade-
-base dos meios de contraste iodados 1,2,3 .
O primeiro exame radiológico efetuado com MCRI
foi uma angiografia em 1920. Durante o século XXI, os
MCRI evoluíram, de agentes iónicos de elevada osmola- tóxica, aumentam a solubilidade do anel de benzeno li-
lidade, para não iónicos de baixa osmolalidade, condicio- pofílico e são responsáveis pelas propriedades individuais
nando uma redução progressiva no número de reações de cada MCRI (Figura 1) 1,2,3 .
adversas desencadeadas por estes agentes. Por um lado, Os MCRI inicialmente sintetizados apresentavam uma
a ocorrência das mesmas continua a ser desvalorizada/ osmolalidade 5 a 8 vezes superior ao plasma, razão pela
/subdiagnosticada pelos profissionais de saúde que mani- qual eram designados MCRI de elevada osmolalidade
pulam estes produtos. Por outro, existem ideias erradas (HOCM). Os MCRI mais recentes apresentam uma os-
disseminadas (como considerar fator de risco a rinite e molalidade muito inferior e mais fisiológica (2 a 3 vezes
a coexistência de alergia a marisco) que levam a uma a osmolalidade do plasma) e são designados MCRI de
atitude demasiado preventiva/restritiva na utilização des- baixa osmolalidade (LOCM) .
1
tes produtos, adiando desnecessariamente a realização É a partir destes dois pontos descritos (estrutura e os-
3
de exames radiológicos importantes. molaridade) que se faz a classificação dos MCRI (Quadro 1) .
Com este artigo, os autores alertam para a necessi- De um modo geral, todos estes compostos não são rea-
dade da atualização de conhecimentos nesta área, pelo tivos, têm baixa ligação proteica e são excretados, não me-
que apresentam uma revisão dos vários aspetos subjacen- tabolizados, na urina até 24 horas após a sua administração.
tes, nomeadamente a classificação dos MCRI, assim como
fisiopatologia, fatores de risco, abordagem diagnóstica e
terapêutica de reações adversas a estes produtos. CLASSIFICAÇÃO E EPIDEMIOLOGIA
DAS REAÇÕES ADVERSAS AOS MEIOS
DE CONTRASTE RADIOLÓGICO IODADO
CLASSIFICAÇÃO DOS MEIOS DE
CONTRASTE RADIOLÓGICO IODADO As reações adversas aos MCRI foram descritas pela
primeira vez em meados da década de 80. Atualmente,
Todos os MCRI têm em comum o anel de benzeno de acordo com Brockow et al. , as reações adversas aos
4
tri -iodado nas posições 2, 4 e 6, diferindo apenas no MCRI classificam -se em três tipos (Figura 2): 1) Reações
número destes anéis por molécula e nos radicais que cada tóxicas: relacionadas com as características moleculares
anel apresenta. Os radicais tornam a molécula menos do MCRI, que são responsáveis pela quimiotoxicidade,
10
REVIST A POR TUGUESA DE IMUNO ALERGOLOGIA