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João Marcelino, Sara Carvalho, Fátima Cabral Duarte, Ana Célia Costa, Manuel Pereira Barbosa





            INTRODUÇÃO


                    esde as últimas décadas do século XX que o
                    desenvolvimento de técnicas de investigação e
            Ddiagnóstico tem transformado a prática clínica.
            Uma das grandes alterações foi a introdução de meios
            de contraste radiológico (MCR) na prática médica.
               Atualmente, os MCR são dos fármacos mais usados
            na medicina moderna de diagnóstico e, entre eles,
            salientam -se os meios de contraste radiológico iodados
            (MCRI), pela maior frequência de utilização.      Figura 1. Anel de benzeno tri-iodado que constitui a unidade-
                                                              -base dos meios de contraste iodados 1,2,3 .
               O primeiro exame radiológico efetuado com MCRI
            foi uma angiografia em 1920. Durante o século XXI, os
            MCRI evoluíram, de agentes iónicos de elevada osmola-  tóxica, aumentam a solubilidade do anel de benzeno li-
            lidade, para não iónicos de baixa osmolalidade, condicio-  pofílico e são responsáveis pelas propriedades individuais
            nando uma redução progressiva no número de reações   de cada MCRI (Figura 1) 1,2,3 .
            adversas desencadeadas por estes agentes. Por um lado,   Os MCRI inicialmente sintetizados apresentavam uma
            a ocorrência das mesmas continua a ser desvalorizada/   osmolalidade 5 a 8 vezes superior ao plasma, razão pela
            /subdiagnosticada pelos profissionais de saúde que mani-  qual eram designados MCRI de elevada osmolalidade
            pulam estes produtos. Por outro, existem ideias erradas   (HOCM). Os MCRI mais recentes apresentam uma os-
            disseminadas (como considerar fator de risco a rinite e   molalidade muito inferior e mais fisiológica (2 a 3 vezes
            a coexistência de alergia a marisco) que levam a uma   a osmolalidade do plasma) e são designados MCRI de
            atitude demasiado preventiva/restritiva na utilização des-  baixa osmolalidade (LOCM) .
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            tes produtos, adiando desnecessariamente a realização   É a partir destes dois pontos descritos (estrutura e os-
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            de exames radiológicos importantes.               molaridade) que se faz a classificação dos MCRI (Quadro 1) .
               Com este artigo, os autores alertam para a necessi-  De um modo geral, todos estes compostos não são rea-
            dade da atualização de conhecimentos nesta área, pelo   tivos, têm baixa ligação proteica e são excretados, não me-
            que apresentam uma revisão dos vários aspetos subjacen-  tabolizados, na urina até 24 horas após a sua administração.
            tes, nomeadamente a classificação dos MCRI, assim como
            fisiopatologia, fatores de risco, abordagem diagnóstica e
            terapêutica de reações adversas a estes produtos.  CLASSIFICAÇÃO E EPIDEMIOLOGIA
                                                              DAS REAÇÕES ADVERSAS AOS MEIOS
                                                              DE CONTRASTE RADIOLÓGICO IODADO
            CLASSIFICAÇÃO DOS MEIOS DE
            CONTRASTE RADIOLÓGICO IODADO                         As reações adversas aos MCRI foram descritas pela
                                                              primeira vez em meados da década de 80. Atualmente,
               Todos os MCRI têm em comum o anel de benzeno   de acordo com Brockow et al. , as reações adversas aos
                                                                                       4
            tri -iodado nas posições 2, 4 e 6, diferindo apenas no   MCRI classificam -se em três tipos (Figura 2): 1) Reações
            número destes anéis por molécula e nos radicais que cada   tóxicas: relacionadas com as características moleculares
            anel apresenta. Os radicais tornam a molécula menos   do MCRI, que são responsáveis pela quimiotoxicidade,


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            REVIST A POR TUGUESA DE IMUNO ALERGOLOGIA
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