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PRÁTICA CLÍNICA 33
Por outro lado, cerca de 30% dos casos mostram ‑se re‑ Figura 2. O sistema de pontuação SDAI (Stomatites Disease
fratários aos tratamentos convencionais, cuja evolução clí‑ Activity Index) é um bom método para a avaliação e o controlo
nica conduz a uma importante deterioração e debilitamen‑ da evolução do tratamento da GECF.
to do animal, com prognóstico muito reservado perante a
falta de outras opções terapêuticas (1,2,5). Índice de atividade GECF 0 1 2 3
Células mãe mesenquimais (MSC) Proprietário. Média de apetite, atividade,
limpeza.
Nos últimos anos têm ‑se desenvolvido de uma forma Proprietário. Perceção do conforto.
exponencial diferentes estratégias terapêuticas englobadas
sob o conceito de medicina regenerativa (10,11). Inflamação mucosa bucal maxilar
Nesta área, têm sido as células mãe as que têm desper‑
tado maior interesse na comunidade científica, devido aos Inflamação mucosa bucal mandibular
seus interessantes e prometedores resultados no tratamen‑ Inflamação gengiva maxilar
to de diferentes patologias que atualmente têm uma má ou
inexistente solução. Como dado interessante, existem atual‑ Inflamação gengiva mandibular
mente em medicina humana mais de 6.200 estudos clínicos
que utilizam diferentes tipos de célula mãe como elemento Inflamação lateral ao arco glossopalatino
terapêutico (www.clinicaltrial.org).
As MSC desempenham um papel fundamental como re‑ Inflamação da glândula salivar molar
servatório de células indiferenciadas para a regeneração/
reparação dos tecidos onde se localizam. Por outro lado, Inflamação orofaringe
existem cada vez mais evidências de que o seu mecanismo
de ação promove efeitos imunomoduladores e anti‑ Inflamação lingual e/ou sublingual
‑inflamatórios através da libertação de uma grande varieda‑ TOTAL (máximo = 30)
de de substâncias bioativas com efeitos autócrinos e pará‑
crinos envolvidos no conceito de secretoma (12,17 ‑19).
Entre todos os seus mecanismos de ação, a capacidade Apetite: 3 = come mal, apenas da mão; 2 = apenas comida húmida; 1 = comida
seca mas em menor quantidade do que o normal; 0= come normalmente.
de modular o sistema imunitário desempenha um papel Nível de atividade: 3 = não liga a pessoas ou a outros animais e passa a maior parte
fundamental em quase todos os efeitos terapêuticos atribuí‑ do tempo a dormir; 2 = baixo nível de atividade mas brinca ocasionalmente quando
dos a estas células. Esta influência é exercida tanto sobre a se estimula; 1 = brinca espontaneamente; 0= nível normal de brincadeira e atividade.
imunidade inata, como sobre a adaptativa, através de dife‑ Limpeza: 3 = não se limpa; 2 = limpa-se ocasionalmente mas não como dantes;
1 = limpa-se em excesso; 0 = realiza a sua limpezas normalmente.
rentes mecanismos, como é o contacto direto célula a cé‑ Conforto: avaliar como 0 o nível máximo de conforto e como 3 o nível mínimo.
lula e a secreção de diferentes substâncias solúveis (IDO,
NO, IL ‑10, PgE2, TGF ‑ß, etc.), que variam com a espécie e
a fonte celular (14,18 ‑21) (figura 3).
Igualmente apresentam a habilidade de migração e fixação Imunoterapia com MSC em GECF
para o local da lesão em resposta às substâncias ali libertadas
(14,22,23). Por outro lado, graças à sua consideração de imu‑ Recentemente começaram ‑se a ver os resultados da tera‑
nopriveligiadas, pela falta de expressão de MCH ‑II e molécu‑ pia imunomoduladora com MSC no tratamento desta pato‑
las co ‑estimuladoras (CD40, CD80 e CD86), podem ‑se utilizar logia, com boas expectativas. Abre ‑se uma prometedora
de modo alogénico, ao escapar do reconhecimento e ação alternativa terapêutica para aqueles animais com GECF que
de células T e NK, já que não são reconhecidas como estra‑ são refratários aos tratamentos convencionais e que não
nhas pelo sistema imunitário do recetor (13,14). têm nenhuma outra opção (5,7,32). Em 2016 foram descri‑
Pela sua capacidade imunoreguladora, atualmente a imu‑ tos os primeiros resultados da terapia celular endovenosa
noterapia com MSC é utilizada com êxito como elemento com MSC autólogas em casos de GECF, com uma melhoria
terapêutico em diferentes patologias imunomediadas, tanto completa ou parcial em 71% dos pacientes tratados (5).
em humanos, como em animais (13,24). Especificamente Contudo, a terapia com células autólogas tem algumas
na espécie felina, a terapia celular com MSC representa uma limitações nesta patologia, fundamentalmente em casos gra‑
eficaz alternativa no tratamento de patologias como a doen‑ ves e refratários, ou quando se dá a coexistência de deter‑
ça intestinal crónica (25), a asma felina (26), a queratite minadas doenças concomitantes ou ainda quando o pacien‑
eosinófila felina (27) ou a insuficiência renal crónica (28,29). te está a ser medicado, já que estes fatores têm um impacto
Saliente ‑se que cada vez existe uma maior quantidade de negativo na qualidade, capacidade regenerativa e potencial
evidências de que a qualidade das MSC é alterada por fa‑ imunomodulador das MSC. Esta terapia também obriga a
tores como a idade, a medicação, o estado sanitário do um stresse acrescido e implica um risco anestésico em ani‑
doador ou o padecimento de outras patologias concomi‑ mais muito depauperados ou caquéticos, ao ter que obter
tantes, o que obriga a uma boa avaliação do caso clínico e a amostra de tecido adiposo para o seu processamento.
à personalização da sua terapia para assegurarmos a maior Face a estas perspetivas, a nossa equipa foi pioneira em
possibilidade de êxito (16,30,31). dar a conhecer os resultados preliminares da terapia celular
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