Page 33 - Clinica_Animal_1-2018
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          Por outro lado, cerca de 30% dos casos mostram ‑se re‑  Figura 2. O sistema de pontuação SDAI (Stomatites Disease
        fratários aos tratamentos convencionais, cuja evolução clí‑  Activity Index) é um bom método para a avaliação e o controlo
        nica conduz a uma importante deterioração e debilitamen‑    da evolução do tratamento da GECF.
        to do animal, com prognóstico muito reservado perante a
        falta de outras opções terapêuticas (1,2,5).          Índice de atividade GECF       0    1     2    3

        Células mãe mesenquimais (MSC)                  Proprietário. Média de apetite, atividade,
                                                        limpeza.
          Nos últimos anos têm ‑se desenvolvido de uma forma   Proprietário. Perceção do conforto.
        exponencial diferentes estratégias terapêuticas englobadas
        sob o conceito de medicina regenerativa (10,11).  Inflamação mucosa bucal maxilar
          Nesta área, têm sido as células mãe as que têm desper‑
        tado maior interesse na comunidade científica, devido aos   Inflamação mucosa bucal mandibular
        seus interessantes e prometedores resultados no tratamen‑  Inflamação gengiva maxilar
        to de diferentes patologias que atualmente têm uma má ou
        inexistente solução. Como dado interessante, existem atual‑  Inflamação gengiva mandibular
        mente em medicina humana mais de 6.200 estudos clínicos
        que utilizam diferentes tipos de célula mãe como elemento   Inflamação lateral ao arco glossopalatino
        terapêutico (www.clinicaltrial.org).
          As MSC desempenham um papel fundamental como re‑  Inflamação da glândula salivar molar
        servatório de células indiferenciadas para a regeneração/
        reparação dos tecidos onde se localizam. Por outro lado,   Inflamação orofaringe
        existem cada vez mais evidências de que o seu mecanismo
        de ação promove efeitos imunomoduladores e anti‑  Inflamação lingual e/ou sublingual
        ‑inflamatórios através da libertação de uma grande varieda‑     TOTAL (máximo = 30)
        de de substâncias bioativas com efeitos autócrinos e pará‑
        crinos envolvidos no conceito de secretoma (12,17 ‑19).
          Entre todos os seus mecanismos de ação, a capacidade   Apetite: 3 = come mal, apenas da mão; 2 = apenas comida húmida; 1 = comida
                                                        seca mas em menor quantidade do que o normal; 0= come normalmente.
        de modular o sistema imunitário desempenha um papel   Nível de atividade: 3 = não liga a pessoas ou a outros animais e passa a maior parte
        fundamental em quase todos os efeitos terapêuticos atribuí‑  do tempo a dormir; 2 = baixo nível de atividade mas brinca ocasionalmente quando
        dos a estas células. Esta influência é exercida tanto sobre a   se estimula; 1 = brinca espontaneamente; 0= nível normal de brincadeira e atividade.
        imunidade inata, como sobre a adaptativa, através de dife‑  Limpeza: 3 = não se limpa; 2 = limpa-se ocasionalmente mas não como dantes;
                                                        1 = limpa-se em excesso; 0 = realiza a sua limpezas normalmente.
        rentes mecanismos, como é o contacto direto célula a cé‑  Conforto: avaliar como 0 o nível máximo de conforto e como 3 o nível mínimo.
        lula e a secreção de diferentes substâncias solúveis (IDO,
        NO, IL ‑10, PgE2, TGF ‑ß, etc.), que variam com a espécie e
        a fonte celular (14,18 ‑21) (figura 3).
          Igualmente apresentam a habilidade de migração e fixação   Imunoterapia com MSC em GECF
        para o local da lesão em resposta às substâncias ali libertadas
        (14,22,23). Por outro lado, graças à sua consideração de imu‑  Recentemente começaram ‑se a ver os resultados da tera‑
        nopriveligiadas, pela falta de expressão de MCH ‑II e molécu‑  pia imunomoduladora com MSC no tratamento desta pato‑
        las co ‑estimuladoras (CD40, CD80 e CD86), podem ‑se utilizar   logia, com boas expectativas. Abre ‑se uma prometedora
        de modo alogénico, ao escapar do reconhecimento e ação   alternativa terapêutica para aqueles animais com GECF que
        de células T e NK, já que não são reconhecidas como estra‑  são refratários aos tratamentos convencionais e que não
        nhas pelo sistema imunitário do recetor (13,14).  têm nenhuma outra opção (5,7,32). Em 2016 foram descri‑
          Pela sua capacidade imunoreguladora, atualmente a imu‑  tos os primeiros resultados da terapia celular endovenosa
        noterapia com MSC é utilizada com êxito como elemento   com MSC autólogas em casos de GECF, com uma melhoria
        terapêutico em diferentes patologias imunomediadas, tanto   completa ou parcial em 71% dos pacientes tratados (5).
        em humanos, como em animais (13,24). Especificamente   Contudo, a terapia com células autólogas tem algumas
        na espécie felina, a terapia celular com MSC representa uma   limitações nesta patologia, fundamentalmente em casos gra‑
        eficaz alternativa no tratamento de patologias como a doen‑  ves e refratários, ou quando se dá a coexistência de deter‑
        ça intestinal crónica (25), a asma felina (26), a queratite   minadas doenças concomitantes ou ainda quando o pacien‑
        eosinófila felina (27) ou a insuficiência renal crónica (28,29).  te está a ser medicado, já que estes fatores têm um impacto
          Saliente ‑se que cada vez existe uma maior quantidade de   negativo na qualidade, capacidade regenerativa e potencial
        evidências de que a qualidade das MSC é alterada por fa‑  imunomodulador das MSC. Esta terapia também obriga a
        tores como a idade, a medicação, o estado sanitário do   um stresse acrescido e implica um risco anestésico em ani‑
        doador ou o padecimento de outras patologias concomi‑  mais muito depauperados ou caquéticos, ao ter que obter
        tantes, o que obriga a uma boa avaliação do caso clínico e   a amostra de tecido adiposo para o seu processamento.
        à personalização da sua terapia para assegurarmos a maior   Face a estas perspetivas, a nossa equipa foi pioneira em
        possibilidade de êxito (16,30,31).             dar a conhecer os resultados preliminares da terapia celular


                                                                                                         1  CLÍNICA
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