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PRÁTICA CLÍNICA  35
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          Figura 5. Imagens da evolução clínica durante 18 meses de um paciente com GECF refratária e positivo a calicivírus, tratado com imunoterapia com MSC.
          A) Início. B) Duas semanas. C) Um mês. D) 4 meses E) 18 meses. SDAI início 24. Peso inicial: 2,8 Kg. Tratamento prévio: exodontias, AINE, corticosteroides,
          antibioterapia, ciclosporina, interferão ómega e bupremorfina. Resultado aos 18 meses: SDAI 2. Peso : 3,9 kg.




          Em animais que respondem à terapia celular, observou ‑se   ca do processo ou a sua remissão total, para além de mini‑
        um aumento nos níveis séricos de IL ‑6. A IL ‑6 é uma cito‑  mizar ou eliminar a medicação.
        quina com atividade pleiotrópica, envolvendo tanto a res‑  Entre os parâmetros determinantes para o resultado e
        posta pró ‑inflamatória, como a anti ‑inflamatória. Esta cito‑  prognóstico desta terapia, encontra ‑se a idade, medicação
        quina é a maior reguladora do balanço entre as células   atual, a infeção por vírus (fundamentalmente calicivírus), o
        efetoras Th17 e células T reguladoras (Tregs). As células   padecimento de algumas doenças concomitantes (insufi‑
        Th17 desempenham um papel chave na patogénese de   ciência renal, entre outras), as exodontias anteriores e os
        importantes doenças autoimunitárias humanas e animais,   níveis de diferentes marcadores de inflamação, fundamen‑
        enquanto que as Tregs se encarregam de manter um estado   tais para o prognóstico e controlo da evolução do processo.
        de tolerância e de restringir uma excessiva resposta por   Na clínica diária, muitos dos pacientes tratados com imu‑
        parte das células T.                           noterapia com MSC são indivíduos muito graves e com um
          Uma das múltiplas funções da IL ‑6 é produzir um estado   estado sanitário muito depauperado. Isto obriga com fre‑
        de imunotolerância através da indução da produção de   quência a complementar com medicação adequada até
        IL ‑21, a qual por sua vez induz a libertação de IL ‑10. Esta   conseguir o efeito imunoreguladora da terapia celular, ou
        última citoquina é capaz de retardar a produção de células   prescreve ‑la esporadicamente aquando de alguma recaída.
        efetoras Th1/Th17, bloqueando assim o dano imunomedia‑  A seleção farmacológica é muito importante para não in‑
        do tissular. Por outro lado, a própria IL ‑21 tem capacidade   terferir com o mecanismo de atuação das MSC nem com‑
        de inibição da diferenciação de novas células T CD8+.  plicar o quadro clínico do paciente.
          Refira ‑se que a IL ‑6 também é secretada por MSC proce‑
        dentes de tecido adiposo no cão, cavalo e gato (14).  Conclusões
          Sintomatologicamente, o quadro de inflamação sistémica
        que os pacientes manifestam com GECF grave e/ou refra‑  A terapia tradicional da GECF grave e/ou refratária é
        tária, é diminuído ao normalizarem ‑se parâmetros como a   baseada principalmente nas exodontias, analgesia, antibio‑
        neutrofilia, globulinas, diminuição de citoquinas pró‑  terapia, anti ‑inflamatórios e imunomoduladores, com uma
        ‑inflamatórias e outros biomarcadores de inflamação. Isto   percentagem importante de pacientes (até 30%) que se
        reflete ‑se nas patologias concomitantes que podem acom‑  mostram refratários a estes tratamentos e têm um prognós‑
        panhar o processo, o que finalmente permite uma melhoria   tico muito reservado.
        clínica geral significativa, com aumento do apetite, peso,   A terapia celular imunomoduladora com MSC demonstrou
        normalização de outros parâmetros sanguíneos e diminui‑  ser um tratamento inovador, seguro e simples para gatos com
        ção/eliminação de medicação (figura 5).        GECF grave e/ou refratária, e converteu ‑se numa interessante
          A melhoria clínica da terapia celular com MSC manifesta‑  alternativa terapêutica ao conseguir uma importante melhoria
        ‑se num intervalo que varia entre 3 semanas e 6 meses   clínica e inclusive a sua remissão. Por outro lado, facilita a
        (5,7,32).                                      retirada de medicação e, por consequência, dos seus efeitos
                                                       adversos, diminuindo o seu custo económico e aumentando
        Seleção do paciente e maneio terapêutico       significativamente a qualidade de vida do paciente.
                                                        A adequada seleção do paciente, protocolo terapêutico
          Deve ‑se ter em conta que a adequada resposta terapêu‑  e acompanhamento é crucial para obter os melhores resul‑
        tica à imunoterapia com MSC em gatos com GECF depen‑  tados. o
        derá da adequada seleção do paciente, que nos vai permi‑
        tir avaliar a sua idoneidade e personalizar o seu protocolo   Bibliografia disponível em www.argos.grupoasis.
        terapêutico, para conseguir uma importante melhoria clíni‑  com/bibliografias/gingivoestomatitis193.doc


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