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ARTIGOS COMENTADOS
ção de antibióticos e, consequentemente, contribuir com DREA e critérios para terapêutica com omalizumab.
para o entendimento da relação destes com a patologia A administração de omalizumab ou placebo ocorreu du-
alérgica. rante 16 semanas, iniciando-se então a dessensibilização
com aspirina até à dose de 650mg bid.
Sofia Couto De 72 doentes avaliados, 16 cumpriam critérios para
Interna de Formação Específica de Imunoalergologia inclusão no estudo, tendo 11 completado com sucesso o
Centro de Imunoalergologia, protocolo de dessensibilização – 7 aleatorizados para
Hospital CUF Descobertas, Lisboa omalizumab, 4 para placebo.
Todos os doentes sob placebo apresentaram sintomas
respiratórios durante a dessensibilização com aspirina,
OMALIZUMAB CAN INHIBIT RESPIRATORY 2 com broncospasmo. No grupo sob omalizumab, 2 re-
REACTION DURING ASPIRIN feriram rinossinusite e 5 não tiveram qualquer sintoma-
DESENSITIZATION tologia (estes com níveis de LTE4 inferiores). Os autores
concluem que em doentes atópicos com DREA a admi-
Lang DM, Aronica MA, Maierson ES, Wang XF, nistração prévia de omalizumab esteve associada a um
Vasas DC, Hazen SL processo de dessensibilização à aspirina, com menor
risco de reações adversas respiratórias.
Ann Allergy Asthma Immunol 2018;121:98-104 Comentário: Trata-se do único estudo publicado
com o objetivo de avaliar a eficácia terapêutica do oma-
Resumo: A doença respiratória exacerbada pela as- lizumab no controlo das reações adversas respiratórias
pirina (DREA) afeta 7% dos adultos asmáticos, frequen- durante a dessensibilizacao à aspirina nos doentes com
temente apresentando rinossinusite e asma graves refra- DREA. Os resultados são sugestivos do benefício desta
tárias à terapêutica. utilização, provavelmente pelo efeito anti-inflamatório
Alguns estudos demonstraram que a dessensibilização conduzir à diminuição da libertação de leucotrienos du-
à aspirina poderia reduzir a terapêutica necessária ao rante a exposição à aspirina.
controlo da doença, bem como o número de interna- Importa referir positivamente o desenho do estudo
mentos e cirurgias nasossinusais nestes doentes. No en- e ainda a dose elevada de aspirina atingida na dessensibi-
tanto, este procedimento é pouco realizado, dado o lização. Não obstante, apresenta algumas limitações me-
risco elevado de broncospasmo grave associado. Vários todológicas: o pequeno número de doentes incluídos não
fármacos têm sido utilizados como pré-medicação no permite extrapolação dos resultados para a população
sentido de evitarem esta reação, mas com resposta ob- com DREA; manutenção de terapêutica com montelu-
tida incompleta e heterogénea. caste (não suspensa por motivos éticos) poderá ter in-
Considerando estar o omalizumab associado à deple- fluenciado o outcome obtido.
ção de IgE, FCeRI, IL 4 e linfócitos T/B na via aérea e a Ainda a ter em conta na interpretação dos resulta-
redução de eosinófilos nos tecidos, os autores colocaram dos: valores de IgE total basais superiores nos doentes
a hipótese de a administração de omalizumab pré-des- aleatorizados para omalizumab (embora estudos afir-
sensibilização à aspirina levar a uma redução significativa mem que o valor de IgE basal não influencia a resposta
das reações respiratórias associadas. ao omalizumab); os três indivíduos do sexo masculino
Assim, realizaram um estudo aleatorizado, duplamen- incluídos foram aleatorizados para omalizumab e ne-
te cego e controlado com placebo, que incluiu adultos nhum apresentou sintomas respiratórios, sendo des-
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REVIST A POR TUGUESA DE IMUNO ALERGOLOGIA