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ARTIGOS COMENTADOS







           Re v P or t Im unoalerg ologia 2019; 27 (1):  63-66

           Coordenação: Graça Loureiro, José Geraldo Dias, Natacha Santos




          TWENTY YEARS’ EXPERIENCE WITH                     urticária aguda espontânea, 13 tiveram reações de hiper-
          ANAPHYLAXIS-LIKE REACTIONS TO                     sensibilidade IgE ou não IgE-mediadas a outros fármacos.
          LOCAL ANESTHETICS: GENUINE ALLERGY                A alergia IgE-mediada ao AL em causa (articaína) foi con-
          IS RARE                                           firmada em 2 casos, um dos quais apresentou reatividade
                                                            cruzada com todas as caínas do grupo amida. Foi diag-
          Axel Trautmann, M.D, Matthias Goebeler, M.D., Johanna   nosticada mastocitose sistémica a um doente.
          Stoevesandt, M.D.                                    Realizaram-se 771 PPS aos 402 doentes, nenhuma das
                                                            quais com reações objetiváveis. Em 30% dos casos foram
          J Allergy Clin Immunol Pract 2018;6:2051-8.e1     relatados sintomas semelhantes à reação inicial. Realizou-
                                                            -se retrospetivamente o diagnóstico de reação aguda
             Introdução: A administração de anestésicos locais   psicossomática em 224 doentes (56%) e de síncope neu-
          (AL) é, com frequência, seguida de reações sugestivas de   ro-cardiogénica em 119 casos (30%). As restantes reações
          anafilaxia, condicionando a suspeita de alergia. Porém, a   sem sinais cutâneos foram interpretadas como reação
          demonstração de alergia IgE-mediada aos AL é rara.  adversa não alérgica ao AL ou à adrenalina.
             Objetivo:  Avaliar se a elevada discrepância entre   Estes resultados demonstraram o elevado valor pre-
          casos suspeitos e confirmados de alergia a AL se associa   ditivo negativo dos TID.
          à existência de falsos negativos na avaliação diagnóstica.  Conclusão: As reações IgE-mediadas a AL são, de
             Métodos: Análise retrospetiva dos dados clínicos e   facto, raras.  Os TID e as PPS são úteis e eficazes na sua
          testes diagnósticos dos doentes referenciados a uma clí-  identificação.
          nica por suspeita de alergia IgE-mediada a AL num perío-  Comentários: Os AL constituem um dos grupos
          do de 20 anos.                                    farmacológicos mais frequentemente utilizados. Os efeitos
             Foram realizados testes intradérmicos (TID) e prova   adversos são raros e maioritariamente associados a so-
          de provocação subcutânea (PPS) de acordo com as gui-  bredosagem ou injeção intravascular acidental.
          delines internacionais. Os TID foram iniciados na diluição   Salienta-se a elevada frequência diagnóstica de reação
          de 1/10 e, se positivos, realizados nas diluições de 1/100   psicossomática, definida pelos autores como dispneia as-
          e 1/1000. As PPS foram realizadas em todos os doentes   sociada a palpitações e parestesia acral/perioral na ausên-
          com TID negativos ou com TID positivo exclusivamente   cia de manifestações cutâneas, e de síncope neurocardio-
          na diluição de 1/10, com administração de doses crescen-  génica, definida por episódios de hipersudorese, náuseas,
          tes de AL até à dose cumulativa de 38 mg. Desde 2004,   tonturas e/ou bradicardia. Estes sintomas estarão associa-
          foi feito o doseamento da triptase sérica basal em todos   dos à dor ou ansiedade provocada por procedimentos
          os doentes com história de reações graves.        invasivos. No entanto, não foi realizada a determinação da
             Resultados: Do total de 402 doentes, 29 reportaram   triptase sérica durante as reações, a qual seria um impor-
          urticária, com ou sem angioedema, até 30 minutos após   tante auxiliar diagnóstico, particularmente nos casos em
          a injeção de AL. Destes, 14 obtiveram o diagnóstico de   que existiu reprodutibilidade de sintomas subjetivos na PPS.


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                                             REVIST A POR TUGUESA DE IMUNO ALERGOLOGIA
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