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Carolina Prelhaz, Anna Sokolova, Carlos Escobar, Marta Moniz, Pedro Nunes, Clara Abadesso, Helena Loureiro
diosas . Contrariamente ao observado na EIPA, em que lecidos como testes diagnósticos ou de aquisição de to-
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a emese é mais exuberante, podendo haver progressão lerância, parecendo no entanto existir uma relação entre
para choque hipovolémico e acidemia, na PCIPA a carac- a positividade dos TCP e a ausência de aquisição de to-
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terística mais significativa é a presença de dejeções pas- lerância oral .
tosas com sangue em lactente com bom estado geral, Em RN/lactentes sob aleitamento materno exclusivo
ocasionalmente com cólica mas raramente com progres- a eliminação do agente desencadeante da dieta materna
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são para desidratação .Nestes, anemia e hipoalbumine- resulta geralmente numa resolução gradual dos sintomas .
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mia são raras .No caso apresentado, a anemia deveu -se, No caso clínico apresentado, no entanto, a evicção do
provavelmente, não só a perdas intestinais ocultas no agente desencadeante da dieta materna não foi tentada,
contexto da proctocolite, mas também a perdas relacio- por decisão dos pais. Mais raramente, a persistência de
nadas com o procedimento cirúrgico realizado. Conside- hemorragia intestinal, apesar de evicção materna adequa-
rando as características clínicas e laboratoriais de ambas da, pode dever -se a incorreta identificação da proteína
as situações clínicas, o caso clínico apresentado parece desencadeante ou a hipersensibilidade às próprias pro-
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ser mais sugestivo de PCIPA. As alterações descritas teínas do leite materno .
colocam diagnóstico diferencial com fissura anal, gas- A hipersensibilidade gastrointestinal mediada por
troenterite infeciosa, anafilaxia, alterações metabólicas, células a proteínas alimentares parece ser uma condição
sépsis, invaginação intestinal ou enterocolite necrotizan- autolimitada e sem sequelas, exceto naqueles com IgE
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te, muitas vezes culminando em tratamento antibiótico específicas positivas . Alguns estudos descrevem pro-
e intervenções invasivas desnecessárias 3,4,9 . Endoscopi- gressão para doença atópica (eczema, asma). Parece
camente, a colite é mais exuberante na EIPA e mais focal haver um maior risco de alergia alimentar IgE mediada
na PCIPA . A PCIPA parece resolver mais precocemente, no grupo de doentes com EIPA. Não existem documen-
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geralmente nos primeiros 12 meses de vida . tados casos de progressão para doença inflamatória
As provas de provocação oral são o gold standard intestinal .
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diagnóstico. No entanto, não são necessárias na maioria Um baixo índice de suspeição é a principal causa de
dos lactentes, especialmente quando existe história clí- atraso diagnóstico .Com este caso os autores pretendem
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nica sugestiva, com resolução dos sintomas após evicção alertar para esta condição clínica que tem vindo a ser
do alimento desencadeante 1,2,3 . A prova de provocação reconhecida de forma crescente, mesmo em RN/lacten-
oral é importante na documentação da tolerância, de- tes sob aleitamento materno exclusivo.
vendo ser realizada depois dos 12 meses de idade nas
hipersensibilidades induzidas pelas proteínas do leite de Contacto:
Carolina Prelhaz
vaca ou, mais precocemente, a partir dos 6 meses, se
Centro Hospitalar Barreiro Montijo
hipersensibilidade à soja . A maioria dos doentes tem Av. Movimento das Forças Armadas, 2830 -003 Barreiro
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testes cutâneos por picada (TCP) negativos e IgE espe- E-mail: carolinaprelhaz@gmail.com
cíficas indetetáveis na altura do diagnóstico. Só muito
raramente os doseamentos de IgE específicas são positi-
vos 1,2,6 e estes casos parecem associar -se a doença mais REFERÊNCIAS
grave e/ou prolongada e até apresentar alteração do fe-
1. Ludman S, Harmon M, Whiting D, du Toit G. Clinical presentation
nótipo clínico para o de reação de hipersensibilidade
and referral characteristics of food protein -induced enterocolitis
imediata .Apesar de os TCP se mostrarem promissores syndrome in the United Kingdom. Ann Allergy Asthma Immunol
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no diagnóstico desta condição, ainda não estão estabe- 2014;113:290 -4.
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REVIST A POR TUGUESA DE IMUNO ALERGOLOGIA