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Cíntia Cruz, Luís Cruz, Rute Reis, Filipe Inácio, Manuel Veríssimo
ção, há também preocupações na adesão à terapêutica, Os anti -histamínicos tópicos são uma boa alternativa
devido a défices físicos ou cognitivos e a questões finan- à terapêutica oral. A azelastina é bem tolerada por doen-
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ceiras . tes geriátricos. Os efeitos adversos mais comuns incluem
O tratamento da rinite alérgica assenta, como na asma, gosto amargo, sedação, cefaleias e irritação local. Os
em dois componentes principais: a evicção alergénica e anti -histamínicos tópicos têm maior eficácia quando com-
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a terapêutica farmacológica. binados com corticoides nasais .
As medidas de controlo ambiental e evicção alergé- Os corticoides tópicos nasais são geralmente bem
nica incluem a prevenção de contacto com os alergénios tolerados no idoso, tendo efeitos sistémicos negligenciá-
em causa, com agentes irritantes inespecíficos e com veis. No entanto, em 5 a 10% dos doentes podem pro-
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outros desencadeantes . Estas medidas devem ser con- vocar ardor e epistaxis e agravar a secura nasal . Os
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sideradas em todos os casos de rinite alérgica. Quando agonistas adrenérgicos α, vulgo descongestionantes, de-
se diagnostica alergia a epitélios de animais, estes devem vem ser evitados nos doentes idosos com comorbilidades,
ser afastados do contacto direto com o doente. Estes como doença arterial coronária, diabetes mellitus, hiper-
fatores são particularmente importantes nos idosos, tensão arterial, hipertiroidismo, glaucoma de ângulo fe-
que tendem a passar mais tempo dentro de casa e, chado ou retenção urinária. Os efeitos adversos dos
portanto, estão mais expostos a alergénios interiores descongestionantes orais incluem palpitações, insónia,
do que a alergénios exteriores. Estão, assim, mais tem- nervosismo e irritabilidade. Alguns doentes podem ter
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po em contacto com alergénios perenes e difíceis de problemas com a micção e diminuição do apetite .
controlar. 16 O ácido cromoglícico exige administração diária fre-
Embora as medidas de evicção alergénica sejam im- quente, pelo que raramente é utilizado, embora apresen-
portantes, é impossível remover todos os alergénios do te um excelente perfil de segurança. Pode ser uma boa
ambiente, pelo que habitualmente é necessário tratamen- opção em idosos que não toleram anti -histamínicos e
to farmacológico para controlo dos sintomas. descongestionantes, ou com o objetivo de evitar intera-
Os anti -histamínicos de primeira geração estão con- ções medicamentosas .
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traindicados no idoso, pois apresentam inúmeros efeitos
adversos sobre o sistema nervoso central e ainda múl-
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tiplas interações medicamentosas . Dada a sua lipofilia, CONCLUSÕES
atravessam prontamente a barreira hematoencefálica,
ligam -se aos recetores H centrais e provocam sedação, A asma e a rinite alérgica são doenças com uma pre-
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tonturas, diminuição do estado de alerta e confusão, valência crescente. Têm muitas semelhanças em termos
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particularmente problemáticos no idoso . Por interfe- fisiopatológicos, apresentando respostas celulares aná-
rência no sono, afetam marcadamente a atenção e o logas, embora com sintomas distintos devido às diferen-
desempenho cognitivo, pelo que podem condicionar a tes estruturas envolvidas.
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condução de veículos . Como não possuem seletivida- Atualmente é consensual que a asma no idoso é um
de para o recetor H , também se ligam a recetores do- problema comum que leva ao comprometimento da
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paminérgicos, serotoninérgicos, muscarínicos e colinér- função respiratória e da qualidade de vida. Neste grupo
gicos. Estas ligações não específicas podem criar outros etário, é uma patologia pouco estudada e, muitas vezes,
efeitos adversos, incluindo retenção urinária, obstipação, subdiagnosticada e subtratada, sendo expectável um
arritmias e hipotensão postural, muitas vezes relevantes peso crescente da asma nos próximos anos. Os cuida-
em idosos . dos aos asmáticos idosos podem ser melhorados atra-
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REVIST A POR TUGUESA DE IMUNO ALERGOLOGIA