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ASMA GRAVE E MACRÓLIDOS / ARTIGO DE REVISÃO
mas respiratórios nem o tempo que medeia até nova IgM positivos e demonstraram uma falta de correlação
exacerbação respiratória durante os seis meses seguintes entre os testes serológicos com a doença causada por
que foram avaliados após efetuar esse tratamento num estas bactérias atípicas. Dos 7 doentes que tiveram PCR
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serviço de urgência . positivos para C. pneumoniae, só 3 tiveram serologias
positivas. Os investigadores concluíram que a maioria dos
doentes adultos com asma estável são cronicamente in-
MACRÓLIDOS EM DOENTES COM ASMA fetados com M. pneumoniae ou C. pneumoniae e os estu-
E INFEÇÃO POR BACTÉRIAS ATÍPICAS dos serológicos não são fiáveis para avaliar o comprome-
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timento das vias aéreas inferiores .
A asma crónica é frequentemente complicada por Os estudos mais recentes dirigidos especialmente à
exacerbações desencadeadas, muitas vezes por infeções associação de M. pneumoniae e C. pneumoniae com sinto-
respiratórias , pelo que o uso de macrólidos pode ser mas de asma, função pulmonar e biomarcadores de infla-
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benéfico nesta patologia. Estes antibióticos apresentam mação, concluíram que houve benefício do uso de ma-
uma boa biodisponibilidade por via oral e largo espetro crólidos no tratamento destas bactérias atípicas em
de atividade contra vários gérmenes, incluindo também doentes selecionados 49,54 . Entretanto, o uso alargado de
as bactérias atípicas Mycoplasma pneumoniae e Chlamydo- macrólidos no tratamento de possível inflamação crónica
phila pneumoniae. Ambas estão implicadas na asma cró- em todos os doentes asmáticos (um grupo heterogéneo)
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nica e nas exacerbações . A própria natureza destes não é apoiado por ensaios clínicos .
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agentes, que no caso de C. pneumoniae provoca um pro- Quando uma infeção bacteriana subaguda é reconhe-
cesso inflamatório crónico por infeção intracelular, e no cida e é identificado o agente patogénico associado numa
caso de M. pneumoniae causa lesão epitelial persistente, asma mal controlada, a antibioterapia direcionada pode
faz deles candidatos ideais para produzirem sintomas reduzir sintomas e melhorar a função pulmonar.
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crónicos e um mau controlo da asma. A capacidade dos No estudo de Good et al. , 58 doentes com asma
macrólidos para penetrar nos leucócitos polimorfonu- refratária foram avaliados por broncoscopia, biópsias
cleares possibilita o seu fácil acesso aos locais de inflama- endobrônquicas, lavado bronquioalveolar, culturas e PCR.
ção. O trabalho de Martin et al. 53 publicado em 2001 Em 25 doentes, foi estabelecida infeção e identificados
forneceu a primeira avaliação sistemática de infeção por os agentes patogénicos. Dez doentes tiveram PCR posi-
Mycoplasma e Chlamydophila nas vias aéreas superiores e tiva para M. pneumoniae e 3 para C. pneumoniae. Estes 13
inferiores de adultos com asma crónica estável. Os doen- doentes apresentaram uma melhoria significativa de FEV
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tes foram avaliados pela presença destas bactérias usan- e ACT após 6 meses de terapêutica com macrólidos. Os
do serologia, culturas e polymerase chain reaction (PCR) outros 12 doentes com agentes patogénicos diferentes
em amostras obtidas de nasofaringe, orofaringe e de também apresentaram uma melhoria significativa de FEV
1
biópsias endobrônquias. As bactérias foram detetadas e ACT com antibioterapia dirigida por resultados de cul-
em 56,4 % de doentes com asma em comparação com turas. Assim, a identificação específica do agente patogé-
9 % do grupo-controlo. De notar que as culturas foram nico destaca um grupo de doentes asmáticos com melhor
negativas em todos os indivíduos, o que destaca a impor- resposta a antibioterapia.
tância de uso de PCR nestas avaliações. Um total de 18 Os resultados dos ensaios clínicos que tinham como
dos 55 doentes com asma e 1 controlo saudável tiveram objetivo analisar o efeito positivo de macrólidos em doen-
serologias positivas para C. pneumoniae. Dos 18 doentes tes com infeção crónica por bactérias atípicas não foram
com asma, 10 só tiveram IgG positivos, 5 tiveram IgG e consensuais.
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REVIST A POR TUGUESA DE IMUNO ALERGOLOGIA