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Alexandru Ciobanu, Joana Pita, Carlos Loureiro, Ana Todo-Bom
Kraft et al. relataram o aumento significativo de FEV ser a causa do aparecimento de espécies resistentes a
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em doentes com asma e com evidência de infeção por M. estes antibióticos, não só a nível individual, mas também
pneumoniae e C. pneumoniae, identificadas por PCR a nível populacional.
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tratados com azitromicina . As contraindicações para o uso de macrólidos incluem
Entretanto, Sutherlend et al. demonstraram uma a alergia e a suspeita de infeção por micobactérias porque
diminuição significativa de hiperreatividade das vias aéreas a monoterapia pode causar o aparecimento de micobac-
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no grupo com PCR negativa tratado com claritromicina . térias resistentes a macrólidos.
A cultura de bactérias atípicas é pouco sensível, enquan-
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to a sensibilidade da serologia e da PCR é variável , o que
pode ser a causa de resultados diferentes nestes ensaios. CONCLUSÕES
Kraft et al. relatam a PCR positiva a M. pneumoniae
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em 42 % (23 de 55) dos doentes, em comparação com Apesar de o efeito positivo dos macrólidos ser con-
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13 % (12 de 92) na série de Sutherland et al. . troverso nos diversos estudos efetuados em doentes com
Black et al., num grande estudo multinacional (219 doen- asma grave, a redução da inflamação neutrofílica das vias
tes), verificaram um efeito positivo de roxitromicina duran- aéreas, do edema e da hiperreactividade brônquica, assim
te 6 semanas de tratamento no débito expiratório máximo como a inibição da produção de muco e a melhoria da
(PEF), que diminuiu nos 6 meses após o tratamento . função pulmonar, foram benefícios associados à possível
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Simpson et al. reportaram piores scores de Asthma capacidade imunomoduladora destes fármacos.
Quality of Life Questionnaire (AQLQ) depois da suspensão Há evidências de que M. pneumoniae e C. pneumoniae têm
de claritromicina . Estes dados sugerem a necessidade um papel na promoção da inflamação das vias aéreas, o que
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de tratamento prolongado com macrólidos e de uma dose pode contribuir para o início e evolução clínica da asma.
adequada para obter todos os efeitos benéficos. No en- A terapêutica com macrólidos que pode suprimir es-
tanto, não se pode desprezar o risco dos efeitos adversos tas bactérias pode também alterar a evolução de doença.
e da aquisição de resistência a antibióticos . O regime Alguns macrólidos podem interferir no metabolismo de
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de uma toma diária de azitromicina parece ser adequado corticosteroides, permitindo um efeito poupador na dose
nos doentes com asma, particularmente pelo alto grau necessária destes fármacos.
de retenção nos tecidos, em comparação com outros A supressão de mediadores pró -inflamatórios espe-
macrólidos. cíficos na asma não eosinofílica foi documentada e a te-
rapêutica prolongada com macrólidos tem mostrado uma
diminuição da taxa de exacerbações e melhoria de qua-
EFEITOS ADVERSOS lidade de vida na asma grave não eosinofílica.
Presentemente, o uso rotineiro de macrólidos no
Os efeitos adversos da terapêutica com macrólidos tratamento da asma crónica não pode ser recomendado.
mais comuns são náuseas e diarreia, que podem afetar a Há necessidade de mais investigação para melhor es-
qualidade de vida e a adesão. Com o uso crónico pode clarecimento do papel dos macrólidos no tratamento da
também surgir toxicidade hepática reversível. asma grave e o papel das bactérias atípicas na patogéne-
Os macrólidos podem induzir o aumento significativo se da doença.
do intervalo QT, habitualmente assintomático, mas com
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risco de arritmias ventriculares graves ou morte súbita . Financiamento: Nenhum.
O largo uso de macrólidos nas infeções respiratórias pode Declaração de conflito de interesses: Nenhum.
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REVIST A POR TUGUESA DE IMUNO ALERGOLOGIA