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NOVOS BIOLÓGICOS PARA O TRATAMENTO DA ASMA / ARTIGO DE REVISÃO
tos, etc.). Desta classificação de fenótipos clínicos passá- os estudos recentes dos anticorpos mais promissores
mos, na última década, a considerar os endótipos da para o tratamento da asma.
asma, uma classificação da doença que tem por base os O desenvolvimento de novos fármacos para a asma
mecanismos fisiopatológicos subjacentes. Esta mudança grave tem conhecido avanços e recuos (Figura 1.A -C).
de paradigma tem implicações profundas, quer na inves- Neste artigo debruçar -nos -emos sobre os anticorpos
tigação da patologia, quer sobretudo na abordagem te- monoclonais que continuam, atualmente, em desenvol-
rapêutica do doente asmático. A correspondência entre vimento para a asma (Figura 1.C), tendo sido excluídos
fenótipos e endótipos nem sempre é perfeita, e um fe- da nossa análise os biológicos, cujo desenvolvimento para
nótipo poderá estar presente em mais de um endótipo, esta indicação foi cancelado ou interrompido. Focaremos
assim como um endótipo pode incluir mais de um fenó- a nossa atenção apenas sobre os ensaios clínicos mais
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tipo . A caraterização dos endótipos é de particular re- recentes e de fase mais avançada.
levância para o desenvolvimento de terapias biológicas, Assim, e de acordo com a estrutura proposta pela
uma vez que a escolha dos alvos terapêuticos específicos Organização da Reunião da Primavera da SPAIC 2017,
requer o conhecimento da fisiopatologia. A classificação abordaremos três temas neste artigo: mepolizumab e
dos endótipos da asma tem sido extensamente debatida outros biológicos com ação sobre a via da IL -5, os bioló-
na literatura recente 3-6 , pelo que não será descrita em gicos dos próximos 3 anos, e outros biológicos interes-
pormenor nesta revisão. Do ponto de vista terapêutico, santes e promissores.
poder -se -á dividir a asma, genericamente, em endótipos
Th2 (alérgica e não alérgica) e endótipos não -Th2.
O primeiro anticorpo monoclonal aprovado para o MEPOLIZUMAB E OUTROS BIOLÓGICOS
tratamento da asma foi o omalizumab, um anticorpo COM AÇÃO SOBRE A VIA DA IL -5
humanizado IgG1k dirigido à fração Fc da IgE livre e
membranar dos linfócitos B (mas não à IgE ligada a re- A IL -5 é uma citocina produzida por linfócitos Th2
cetores Fcε). A sua aprovação ocorreu pela Food and e mastócitos e que atua sobre eosinófilos, linfócitos B
Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos da Amé- e basófilos, mediando efeitos relevantes para a fisiopa-
rica (EUA) em 2003 para o tratamento da asma mode- tologia de alguns tipos de asma (alérgica e não alérgi-
rada a grave em doentes com idade superior a 12 anos, ca) . A IL -5 tem uma função central na fisiologia dos
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e pela European Medicines Agency (EMA) em 2005 para eosinófilos, promovendo a sua produção e diferencia-
doentes com idade superior a 12 anos com asma alér- ção, o seu recrutamento e ativação e a sua sobrevivên-
gica grave não controlada, múltiplas exacerbações ape- cia. Em várias patologias eosinofílicas foi demonstrado
sar de altas doses de ICS/LABA e FEV1 <80 %. Poste- um papel central da IL -5 na acumulação e ação dos eo-
riormente foi também aprovado para idades entre os 6 sinófilos. Durante a ativação dos linfócitos B, a produção
e 12 anos . O tratamento da asma alérgica com oma- de IL -5 pelas células Th2 promove a proliferação dos
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lizumab é, atualmente, uma prática corrente na Imunoa- linfócitos B e a mudança de classe de imunoglobulina
lergologia nacional e a sua análise foge ao âmbito desta para IgE. A IL -5 promove ainda a diferenciação de basó-
revisão sobre novos biológicos. filos e libertação de histamina. Estas ações da IL -5 sobre
Mais recentemente, têm sido desenvolvidos anticor- várias células envolvidas na patogénese da asma justifi-
pos com especificidade para outras células e moléculas caram o aparecimento de vários anticorpos que tentam
que se acredita serem fundamentais na inflamação de um bloquear os seus efeitos: o mepolizumab, o reslizumab
ou mais endótipos de asma. Nesta revisão analisaremos e o benralizumab.
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REVIST A POR TUGUESA DE IMUNO ALERGOLOGIA