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Cíntia Cruz, Rute Reis, Irina Didenko, Elza Tomaz, Filipe Inácio
DISCUSSÃO desvalorizar os seus sintomas por um lado e, por outro,
também não são tão controlados pelos pais. De um modo
O CARATkids, utilizado no presente estudo, é o úni- geral os nossos resultados estão de acordo com a maio-
co questionário que reúne sintomas nasais e brônquicos, ria dos trabalhos publicados, em que é encontrada uma
permitindo uma avaliação global da patologia alérgica baixa correlação entre os parâmetros de função respira-
respiratória. Assim, analisando a totalidade dos resulta- tória e os resultados de questionários de controlo da
dos verificamos que apenas 5 % das crianças não apre- asma na criança/adolescente 21 -24 . Existem, no entanto,
sentaram quaisquer sintomas nas últimas duas semanas. estudos que não encontraram qualquer correlação signi-
Realçamos que a avaliação das próprias crianças identifi- ficativa entre estes valores 25 -28 . Tal pode dever -se ao
ca uma percentagem sintomática muito superior (95 %) facto de os questionários de controlo e a espirometria
comparativamente à avaliação dos cuidadores, que foi de darem informação complementar, focando aspetos dife-
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59 %. Esta diferença sublinha a importância de questionar rentes da doença alérgica . Um estudo português tam-
diretamente as crianças sobre os seus sintomas, não va- bém já tinha encontrado correlações significativas, embo-
lorizando apenas a perceção dos cuidadores. Aliás, o ra baixas, entre a %FEV e os resultados do questionário
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paralelismo entre o resultado do score total e a resposta CARAT destinado a adultos .
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positiva à oitava pergunta do questionário da criança su- Como limitações do nosso estudo podemos conside-
gere uma boa perceção dos sintomas por parte destas. rar o facto de não se ter tido em consideração a tera-
Por outro lado, chama a atenção a elevada percentagem pêutica em curso dos doentes incluídos. Adicionalmente,
de crianças com doença não controlada, que poderá pôr a separação das perguntas do questionário por scores não
em causa a avaliação de gravidade feita inicialmente, e foi testada em estudos prévios, carecendo portanto de
consequente instituição de uma terapêutica insuficiente validação.
e/ou de uma falta de adesão ao tratamento proposto. Do nosso conhecimento, este foi o primeiro estudo
Quando consideramos os parâmetros da espirome- a avaliar a relação entre parâmetros espirométricos e a
tria, verificamos que mais de 80 % das crianças apresen- pontuação de um questionário de controlo da asma e
ta um FEV superior a 75 % do valor previsto ( -1DP). Se rinite na criança.
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atendermos a que apenas 26 % das crianças não tinham A avaliação do controlo da asma pelos doentes de-
apresentado sintomas brônquicos, torna -se evidente que pende da sua perceção de obstrução brônquica, bem
a espirometria, sendo um instrumento indispensável na como da sua interpretação pessoal de bom controlo, que
avaliação da criança asmática, não dispensa uma cuidado- pode diferir marcadamente da apreciação do médico .
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sa avaliação clínica, sem a qual o controlo da doença No entanto, de um modo geral, tanto os doentes como
tenderá a ser sobrestimado. os médicos tendem a sobrestimar o controlo da asma .
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No nosso estudo os valores espirométricos tiveram De igual modo, os pais tendem a subreportar os sintomas
uma correlação modesta, ainda que significativa, com os de asma dos filhos, o que pode ser explicado pela adap-
scores do questionário nas crianças mais novas, o que não tação do nível de atividade da criança aos seus sintomas
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aconteceu nas restantes. Uma hipótese para esta situação de asma . Assim, a aplicação de questionários padroni-
poderá ser o facto de o controlo dos pais, tanto direto zados pode contribuir para uma avaliação mais objetiva
como indireto (através dos professores), ser mais aper- da sintomatologia do doente.
tado nas crianças mais novas, levando a que estas estejam Têm sido desenvolvidos alguns questionários de auto-
mais cientes dos seus sintomas. Ao contrário, é consen- preenchimento para avaliação do controlo de asma na
sual que os pré -adolescentes e adolescentes tendem a criança. Como exemplos desses questionários incluem -se
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REVIST A POR TUGUESA DE IMUNO ALERGOLOGIA